Introdução a Hermenêutica
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A cada dia temos o aumento da pirataria: tênis, roupas, músicas, filmes etc. Atualmente é aterrador a quantidade de pastores piratas, mercenário falsificadores do evangelho. Da mesma forma, que a clientela de produtos piratas aumenta de forma avassaladora, os ‘clientes’ desse evangelho falsificado da prosperidade aumenta de forma assustadora. Mas temos uma diferença fundamental: os produtos piratas, normalmente, são baratíssimos, porém o evangelho falsificado costuma ser bem caro e bota caro nisso.
Em contraste, o Evangelho de Cristo é de graça! Isso soa ridículo para muitos, uma afronta. Os que vivem o evangelho do sacrifício não podem aceitar o genuíno evangelho da Graça, pois, um não combina com o outro. O evangelho da graça prega a suficiência do sacrifico de Cristo e não o nosso próprio sacrifício.
Quando desanimamos e nos entristecemos com o que tem sido feito em nome de Jesus nesta nação, como um bálsamo, o Eterno nos faz ver aqueles que não se prostraram e não beijaram a mão de Mamon. Servimos hoje a Deus ou as riquezas? Só podemos escolher um. A quem escolheremos? De que lado estaremos?
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Marcadores: apologética, Teologia da prosperidade
(1761-1834)
Diz-se que Guilherme Carey, fundador das missões atuais, não era dotado de inteligência superior e nem de qualquer dom que deslumbrasse os homens. Entretanto, foi a persistência o segredo do êxito da sua vida.
Quando Deus o chamava a iniciar qualquer tarefa, permanecia firme, dia após dia até acabá-la. Deixou o Senhor utilizar-se de sua vida, não somente para evangelizar durante um período de quarenta e um anos no estrangeiro, mas também para executar a façanha por incrível que pareça, de traduzir as Sagradas Escrituras em mais que trinta línguas.
Com a idade de vinte anos, casou-se. Porém os membros da igreja onde pregava eram pobres e Carey teve de continuar seu ofício de sapateiro para ganhar o pão cotidiano.
A sociedade missionária, apesar de tantos contratempos, continuou a confiar em Deus; conseguiram granjear dinheiro e compraram passagem para a Índia em um navio dinamarquês. Uma vez mais Carey rogou à sua querida esposa que o acompanhasse. Ela ainda persistia na recusa e nosso herói, ao despedir-se dela, disse: "Se eu possuísse o mundo inteiro, daria alegremente tudo pelo privilégio de levar-te e os nossos queridos filhos comigo; mas o sentido do meu dever sobrepuja todas as outras considerações. Não posso voltar para trás sem incorrer em culpa a minha alma."
Porém, antes de o navio partir, um dos missionários foi à casa de Carey. Grande foi a surpresa e o regozijo de todos ao saberem que esse missionário conseguiu induzir a esposa de Carey a acompanhar o seu marido. Deus comoveu o coração do comandante do navio a levá-la em companhia dos filhos, sem pagar passagem.
Carey percebeu a necessidade imperiosa de o povo possuir a Bíblia na própria língua e, sem demora, entregou-se à tarefa de traduzi-la. A rapidez com que aprendeu as línguas da Índia é uma admiração para os maiores lingüistas.
Durante o período de quarenta e um anos, que passou na Índia, não visitou a Inglaterra. Falava, embora com dificuldade, mais de trinta línguas da Índia, dirigia a tradução das Escrituras em todas elas e foi apontado ao serviço árduo de tradutor oficial do governo. Escreveu várias gramáticas indianas e compilou notáveis dicionários dos idiomas bengali, marati e sânscrito. O dicionário do idioma bengali consta de três volumes e inclui todas as palavras da língua, traçadas até a sua origem e definidas em todos os seus sentidos.
Com o avançar da idade, seus amigos insistiam em que diminuísse os seus esforços, mas a sua aversão à inatividade era tal, que continuava trabalhando mesmo quando a força física não dava para a necessária energia mental. Por fim, viu-se obrigado a ficar de cama, onde continuava a corrigir as provas das traduções.
Finalmente, em 9 de junho de 1834, com a idade de 73 anos, Guilherme Carey dormiu em Cristo.
A humildade era uma das características mais destacadas da sua vida.
Quando Guilherme Carey chegou à Índia, os ingleses negaram-lhe permissão para desembarcar. Ao morrer, porém, o governo mandou içar as bandeiras a meia haste em honra de um herói que fizera mais para a Índia do que todos os generais britânicos.
O missionário, magro e enfraquecido pelos sofrimentos e privações, foi conduzido entre os mais endurecidos criminosos, com gado, a chicotadas e sobre a areia ardente, para a prisão. Sua esposa conseguiu entregar-lhe um travesseiro para que pudesse dormir melhor no duro solo da prisão. Porém ele descansava ainda melhor porque sabia que dentro do travesseiro, que tinha abaixo da cabeça, estava escondida a preciosa porção da Bíblia que traduzira com grandes esforços para a língua do povo que o perseguia.
Aconteceu que o carcereiro requisitou o travesseiro para o seu próprio uso! Que podia fazer o pobre missionário para readquirir seu tesouro? A esposa então preparou, com grandes sacrifícios, um travesseiro melhor e conseguiu trocá-lo com o do carcereiro. Dessa forma a tradução da Bíblia foi conservada na prisão por quase dois anos; a Bíblia inteira, depois de completada por ele, foi dada, pela primeira vez, aos milhões de habitantes da Birmânia.Em toda a história, desde o tempo dos apóstolos, são poucos os nomes que nos inspiram tanto a esforçarmo-nos pela obra missionária como os nomes desse casal, Ana e Adoniram Judson.
O CHAMADO
Judson, com quatro dos seus colegas, reuniram-se junto a um montão de feno, para orarem e ali solenemente dedicarem, perante Deus, suas vidas para levar o Evangelho "aos confins da terra". Não havia qualquer junta de missões para os enviar. Contudo, Deus honrou a dedicação dos moços, tocando nos corações dos crentes, para suprirem o dinheiro. Judson foi chamado, então, a ocupar um lugar no corpo docente na universidade de Brown, mas recusou o convite. Depois foi chamado a pastorear uma das maiores igrejas da América do Norte. Este convite, também, foi rejeitado. Foi grande o desapontamento de seu paí e o choro de sua mãe e irmã ao saberem que Judson se oferecera para a obra de Deus no estrangeiro, onde nunca fora proclamado o Evangelho.
Judson e sua esposa embarcaram para a Índia em 1812, passando quatro meses a bordo do navio.
Recusou o emprego de intérprete do governo, com salário elevado, escolhendo antes sofrer as maiores privações e o opróbrio, para ganhar as almas dos pobres birmaneses para Cristo.
Durante onze meses, esteve preso em Ava. (Ava era naquele tempo a capital da Birmânia.) Passou alguns dias, com mais sessenta outros sentenciados à morte, encerrado em um edifício sem janelas, escuro e quente, abafado e imundo em extremo. Passava o dia com os pés e mãos no tronco. Para passar a noite, o carcereiro enfiava-lhe um bambu entre os pés acorrentados, juntando-o com outros prisioneiros e, por meio de cordas, arribava-os para apenas os ombros descansarem no chão. Além desse sofrimento, tinha de ouvir constantemente gemidos misturados com o falar torpe dos mais endurecidos criminosos da Birmânia. Vendo os outros prisioneiros arrastados para fora para morrer às mãos do carrasco, Judson podia dizer: "Cada dia morro". As cinco cadeias de ferro pesavam tanto, que levou as marcas das algemas no corpo até a morte.
Certamente ele não teria resistido, se a sua fiel esposa não tivesse conseguido permissão do carcereiro para, no escuro da noite, levar-lhe comida e consolá-lo com palavras de esperança.Um dia porém, ela não apareceu; essa ausência durou vinte longos dias. Ao reaparecer, trazia nos braços uma criancinha recém-nascida.
Judson, uma vez liberto da prisão, apressou-se o mais possível a chegar a casa, mas tinha as pernas estropiadas pelo longo tempo que passara no cárcere. Fazia muitos dias que não recebia notícias de sua querida Ana! - Ela ainda vivia? Por fim, encontrou-a, ainda viva, mas com febre, e próximo de morte.
Dessa vez ela ainda se levantou, mas antes de completar 14 anos na Birmânia, faleceu. Comove a alma ao ler a dedicação de Ana Judson ao marido, e a parte que desempenhou na obra de Deus, e em casa até o dia da sua morte.
Alguns meses depois da morte da esposa de Judson, a sua filha também morreu. Durante os seis longos anos que se seguiram, ele trabalhou sozinho, casando-se, então, com a viúva de outro missionário. A nova esposa, gozando os frutos dos esforços incessantes na Birmânia, mostrou-se tão dedicada ao marido como a primeira.
Judson perseverou durante vinte anos para completar a maior contribuição que se podia fazer à Birmânia, a tradução da Bíblia inteira na própria língua do povo.
Depois de trabalhar constantemente no campo estrangeiro durante trinta e dois anos, para salvar a vida da esposa, embarcou com ela e três dos filhos, de volta à América, sua terra natal. Porém, em vez de ela melhorar da doença que sofria, como se esperava, morreu durante a viagem, sendo enterrada em Santa Helena, onde o navio aportou.
- Quem poderá descrever o que Judson sentiu ao desembarcar nos Estados Unidos, quarenta e cinco dias depois da morte da sua querida esposa?! Ele, que estivera ausente durante tantos anos da sua terra, sentia-se agora perturbado acerca da hospedagem nas cidades de seu país. Surpreendeu-se, depois de desembarcar, ao verificar que todas as casas se abriam para recebê-lo. Seu nome tornara-se conhecido de todos. Grandes multidões afluíam para ouvi-lo pregar. Porém, depois de passar trinta e dois anos ausente na Birmânia, naturalmente, sentia-se como se estivesse entre estrangeiros, e não queria levantar-se diante do público para falar na língua materna. Também sofria dos pulmões e era necessário que outrem repetisse para o povo o que ele apenas podia dizer balbuciando.
Passara apenas oito meses entre seus patrícios, quando se casou de novo e embarcou pela segunda vez para a Birmânia. Continuou a sua obra naquele país, sem cansar, até alcançar a idade de sessenta e um anos. Judson foi, então, chamado a estar com o seu Mestre enquanto viajava longe da família. Conforme o seu desejo, foi sepultado em alto mar.
Adoniram Judson costumava passar muito tempo orando de madrugada e de noite. Diz-se que gozava da mais íntima comunhão com Deus enquanto caminhava apressadamente. Os filhos, ao ouvirem seus passos firmes e resolutos dentro do quarto, sabiam que seu pai estava levando suas orações ao trono da graça. Sua esposa conta que, durante a sua última doença, antes de falecer, ela leu para ele a notícia de certo jornal, acerca da conversão de alguns judeus na Palestina, justamente onde Judson queria trabalhar antes de ir à Birmânia. Esses judeus, depois de lerem a história dos sofrimentos de Judson na prisão de Ava, foram inspirados a pedir, também, um missionário e assim iniciou-se uma grande obra entre eles.
Por muitos anos, até pouco antes da sua morte, Judson considerava os longos meses de horrores da prisão em Ava, como inteiramente perdidos à obra missionária.
No começo do trabalho na Birmânia, Judson concebeu a idéia de evangelizar, por fim, todo o país. A sua maior esperança era ver durante a sua vida, uma igreja de cem birmaneses salvos e a Bíblia impressa na língua desse país. No ano da sua morte, porém, havia sessenta e três igrejas e mais de sete mil batizados, sendo os trabalhos dirigidos por cento e sessenta e três missionários, pastores e auxiliares. As horas que passou diariamente suplicando ao Deus que dá mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos, não foram perdidas.
Até aquele dia, quando todo o joelho se dobrará perante o Senhor Jesus, os corações crentes serão movidos aos maiores esforços, pela lembrança de Ana Judson, enterrada debaixo do hopiá (uma árvore) na Birmânia; de Sara Judson, cujo corpo descansa na ilha pedregosa de Santa Helena e de Adoniram Judson, sepultado nas águas do oceano Índico.
"Pela fé, Abel... Pela fé, Noé... Pela fé, Abraão..." Assim é que o Espírito Santo conta as incríveis proezas que Deus fez por intermédio dos homens que ousavam confiar unicamente nele. Foi no século XIX que Deus acrescentou o seguinte a essa lista: "Pela fé, Jorge Müller levantou orfanatos, alimentou milhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes em redor do globo e ganhou multidões de almas para Cristo".
Um mês depois de seu casamento, colocou uma caixa no salão de cultos e anunciou que podiam deitar lá as ofertas para o seu sustento e que, daí em diante, não pediria mais nada, nem a seus amados irmãos; porque, como ele disse, "Sem me aperceber, tenho sido levado a confiar no braço de carne, mas o melhor é ir diretamente ao Senhor"O primeiro ano findou com grande triunfo e Jorge Müller disse aos irmãos que, apesar da pouca fé ao começar, o Senhor tinha ricamente suprido todas as suas necessidades materiais e, o que foi ainda mais importante, tinha-lhe concedido o privilégio de ser um instrumento na sua obra.
O ano seguinte foi, porém, de grande provação, porque muitas vezes não lhe restava nem um xelim. E Jorge Müller acrescenta que no momento próprio a sua fé sempre foi recompensada com a chegada de dinheiro ou alimentos.
Certo dia, quando só restavam oito xelins, Müller pediu ao Senhor que lhe desse dinheiro. Esperou muitas horas sem qualquer resposta. Então chegou uma senhora e perguntou: - "O irmão precisa de dinheiro?" Foi uma grande prova da sua fé, porém, o pastor respondeu: - "Minha irmã, eu disse aos irmãos, quando abandonei meu salário, que só informaria o Senhor a respeito das minhas necessidades". - "Mas", respondeu a senhora, "Ele me disse que eu lhe desse isto", e colocou 42 xelins na mão do pregador.
Nesses dias, quando começou a provar as promessas de Deus, ficou comovido pelo estado dos órfãos e pobres crianças que encontrava nas ruas. Ajuntou algumas dessas crianças para comer consigo às oito horas da manhã e a seguir, durante uma hora e meia, ensinava-lhes as Escrituras. A obra aumentou rapidamente. Quanto mais crescia o número para comer, tanto mais recebia para alimentá-las até se achar cuidando de trinta a quarenta menores.
Certa noite, quando lia a Bíblia, ficou profundamente impressionado com as palavras: "Abre bem a tua boca, e ta encherei" (Salmo 81.10). Foi levado a aplicar essas palavras ao orfanato, sendo-lhe dada a fé de pedir mil libras ao Senhor; também pediu que Deus levantasse irmãos com qualificação para cuidar das crianças. Desde aquele momento, esse texto (Salmo 81.10), serviu-lhe como lema e a promessa se tornou em poder que determinou todo o curso da sua vida.
Deus não demorou muito a dar a sua aprovação de alugar uma casa para os órfãos. Foi apenas dois dias depois de começar a pedir, que ele escreveu no seu diário: "Hoje recebi o primeiro xelim para a casa dos órfãos".
Quatro dias depois foi recebida a primeira contribuição de móveis: um guarda-roupa; e uma irmã ofereceu dar seus serviços para cuidar dos órfãos. Jorge Müller escreveu naquele dia que estava alegre no Senhor e confiante em que Ele ia completar tudo.
No dia seguinte, Jorge Müller recebeu uma carta com estas palavras: "Oferecemo-nos para o serviço do orfanato, se o irmão achar que temos as qualificações. Oferecemos também todos os móveis, etc, que o Senhor nos tem dado. Faremos tudo isto sem qualquer salário, crendo que, se for a vontade do Senhor usar-nos, Ele suprirá todas as nossas necessidades". Desde aquele dia, nunca faltaram, no orfanato, auxiliares alegres e devotados, apesar de a obra aumentar mais depressa do que Jorge Müller esperava.
Três meses depois, foi que conseguiu alugar uma grande casa e anunciou a data da inauguração do orfanato para o sexo feminino. No dia da inauguração, porém, ficou desapontado: nenhuma órfã foi recebida. Somente depois de chegar a casa é que se lembrou de que não as tinha pedido. Naquela noite humilhou-se rogando a Deus o que anelava. Ganhou a vitória de novo, pois veio uma órfã no dia seguinte. Quarenta e duas pediram entrada antes de findar o mês, e já havia vinte e seis no orfanato.
Durante o ano, houve grandes e repetidas provas de fé.
Aparece, por exemplo, no seu diário: "Sentindo grande necessidade ontem de manhã, fui dirigido a pedir com insistência a Deus e, em resposta, à tarde, um irmão deu-me dez libras". Muitos anos antes da sua morte, afirmou que, até aquela data, tinha recebido da mesma forma 5.000 vezes a resposta, sempre no mesmo dia em que fazia o pedido.
Era seu costume, e recomendava também aos irmãos, guardar um livro. Numa página assentava seu pedido com a data e no lado oposto a data em que recebera a resposta. Dessa maneira, foi levado a desejar respostas concretas aos seus pedidos e não havia dúvida acerca dessas respostas.
Os cinco prédios construídos de pedras lavradas e situados em Ashley Hill, Bristol, Inglaterra, com 1.700 janelas e lugar para acomodar mais de 2.000 pessoas, são testemunhas atuais dessa grande fé de que ele escreveu.
São de Jorge Müller estas palavras: "Muitas repetidas vezes tenho-me encontrado em posição muito difícil, não só com 2.000 pessoas comendo diariamente às mesas, mas também com a obrigação de atender a todas as demais despesas, estando a nossa caixa com os fundos esgotados. Havia ainda 189 missionários para sustentar, cerca de 100 colégios com mais ou menos 9.000 alunos, além de 4.000.000 de tratados para distribuir, tudo sob nossa responsabilidade, sem que houvesse dinheiro em caixa para as despesas".
Com a idade de 69 anos Jorge Müller iniciou suas viagens, nas quais pregou centenas de vezes em quarenta e duas nações, a mais de três milhões de pessoas.
Com a idade de 90 anos pregou o sermão fúnebre da segunda esposa, como o fizera na morte da primeira. Uma pessoa que assistiu a esse enterro, assim se expressou: -"Tive o privilégio, sexta-feira, de assistir ao enterro da senhora Müller... e presenciar um culto simples, que foi, talvez, pelas suas peculiaridades, o único na história do mundo: Um venerável patriarca preside ao culto do início ao fim. Com a idade de noventa anos, permanece ainda cheio daquela grande fé que o tem habilitado a alcançar tanto, e que o tem sustentado em emergência, problemas e trabalhos duma longa vida..."
No ano de 1898, com a idade de noventa e três anos, na última noite antes de partir para estar com Cristo, sem mostrar sinal de diminuição de suas forças físicas, deitou-se como de costume. Na manhã do dia seguinte foi "chamado", na expressão de um amigo ao receber as notícias que assim explicam a partida: "O querido ancião Müller desapareceu de nosso meio para o Lar, quando o Mestre abriu a porta e o chamou ternamente, dizendo: 'Vem!'"
Os jornais publicaram, meio século depois da sua morte, a seguinte notícia: "O orfanato de Jorge Müller, em Bristol, permanece como uma das maravilhas do mundo. Desde a sua fundação, em 1836, a cifra que Deus tem concedido, unicamente em resposta às orações, sobe a mais de vinte milhões de dólares e o número de órfãos ascende a 19.935.
Perto de Dalswinton, na Escócia, morava João Paton.
Por fim chegou o dia em que João tinha de deixar o lar paterno. Sem o dinheiro para a passagem e com tudo que possuía, inclusive uma Bíblia embrulhada num lenço, saiu a pé para trabalhar e estudar em Glasgow. O pai o acompanhou até uma distância de nove quilômetros. O último quilômetro, antes de se separarem um do outro, os dois caminhavam sem poderem falar uma só palavra - o filho sabia pelo movimento dos lábios do pai que este orava em seu coração por ele. Ao chegarem ao lugar combinado para se separarem, o pai balbuciou: "Deus te abençoe, meu filho! O Deus de teu pai te prospere e te guarde de todo o mal". Depois de se abraçarem, o filho saiu correndo enquanto o pai, em pé, no meio da estrada, imóvel, o chapéu na mão e com lágrimas correndo pelas faces, continuava a orar em seu coração.
Alguns anos depois, o filho testificou de que essa cena, gravada na sua alma, o estimulava como um fogo inextinguível a não desapontar o pai no que esperava dele, seu filho, que seguisse o seu bendito exemplo de andar com Deus.
Durante os três anos de estudos em Glasgow, apesar de trabalhar com as próprias mãos para se sustentar, João Paton, no gozo do Espírito Santo, fez uma grande obra na seara do Senhor. Contudo, soava-lhe constantemente aos ouvidos o clamor dos selvagens nas ilhas do Pacífico e isso foi, antes de tudo, o assunto que ocupava as suas meditações e orações diárias. Havia outros para continuar a obra que fazia em Glasgow, mas quem desejava levar o Evangelho a esses pobres bárbaros?!
Ao declarar sua resolução de trabalhar entre os antropófagos das Novas Hébridas, quase todos os membros da sua igreja se opuseram à sua saída. Um muito estimado irmão assim se exprimiu: "Entre os antropófagos! será comido por eles!" A isso João Paton respondeu: 'O irmão é muito mais velho que eu, breve será sepultado e comido por vermes; declaro ao irmão que, se eu conseguir viver e morrer servindo o Senhor Jesus e honrando o seu nome, não me importarei ser comido por antropófagos ou por vermes; no grande dia da ressurreição, o meu corpo se levantará tão belo como o seu, na semelhança do Redentor ressuscitado".
De fato, as Novas Hébridas haviam sido batizadas com sangue de mártires. Os dois missionários, Williams e Harris, enviados para evangelizar essas ilhas, poucos anos antes desse tempo, foram mortos a cacetadas, e seus cadáveres cozidos e comidos. "Os pobres selvagens não sabiam que assassinavam seus amigos mais fiéis; assim os crentes em todos os lugares, ao receberem as notícias do martírio dos dois, oraram com lágrimas por esses povos."
E Deus ouviu as súplicas, chamando, entre outros, a João Paton. Porém, a oposição à sua saída era tal, que ele resolveu escrever a seus pais; pela resposta veio a saber que eles o haviam dedicado para tal serviço, no dia do seu nascimento. Desde esse momento, João Paton não mais duvidou da vontade de Deus, e assentou no seu coração gastar a vida servindo aos indígenas das ilhas do Pacífico.
A esposa de Paton era uma ajudadora esforçada e dentro de poucas semanas reuniu oito mulheres da ilha e as instruía diariamente. Três meses depois da chegada dos missionários à ilha, a esposa de Paton faleceu de maleita e um mês depois o filhinho também morreu. - Quem pode avaliar as saudades de Paton, durante os anos que trabalhou sem ajudadora em Tana?! Apesar de quase haver morrido também de maleita, de os crentes insistirem para que voltasse à sua terra, e de os indígenas fazerem plano após plano de matá-lo para o comerem, esse herói permaneceu orando e trabalhando fielmente no posto onde Deus o colocara.Um templo foi construído e um bom número se congregava para ouvir a mensagem divina.
Paton não somente conseguiu reduzir a língua dos tanianos à forma escrita, mas também traduziu uma parte das Escrituras, a qual imprimiu, apesar de não conhecer a arte tipográfica. Acerca dessa gloriosa façanha de imprimir o livro em Taniano, assim escreveu: "Confesso que gritei de alegria quando a primeira folha saiu do prelo, tendo todas as páginas na ordem própria; era uma hora da madrugada. Eu era o único homem branco na ilha e havia horas em que todos os nativos dormiam. Contudo, atirei ao ar o chapéu e dancei como um menino, por algum tempo, ao redor do prelo".
Depois de Paton haver passado três anos em Tana, o casal de missionários que vivia na ilha vizinha, Erromanga, foi martirizado barbaramente a machadadas, em pleno dia. Ao completar quatro anos de estada em Tana, o ódio dos indígenas dessa ilha chegou ao auge. Diversas tribos combinaram matar o "indefeso" missionário e findar, assim, com a religião do Deus de amor, em toda a ilha. Contudo, como ele mesmo se declarava imortal até findar sua obra na terra, evitava, em pleno campo, os inúmeros golpes de lanças, machadinhas e cacetes, armados pelas mãos dos indígenas, e assim conseguiu escapar para a ilha de Aneitium. Planejou então ocupar-se na obra de tradução do resto dos Evangelhos na língua taniana, enquanto esperava a oportunidade de voltar a Tana. Contudo, sentiu-se dirigido a aceitar a chamada para ir à Austrália. Em poucos meses, animou as igrejas ali a comprarem um navio à vela, para servir aos missionários. Despertou-as, também, a contribuírem liberalmente e a enviarem mais missionários a evangelizar todas as ilhas.
Acerca da sua viagem à Escócia, depois de alguns anos nas Novas Hébridas, ele escreveu: "Fui, de trem, a Dunfries e lá achei condução para o querido lar paterno, onde fui acolhido com muitas lágrimas. Havia somente cinco curtíssimos anos que saíra desse santuário com a minha jovem esposa, e agora, ai de mim! - mãe e filhinho jaziam no túmulo, em Tana, nos braços um do outro, até o dia da ressurreição... Não foi com menos gozo, apesar de sentir-me angustiado, que, poucos dias depois, me encontrei com os pais da minha querida falecida esposa."
Antes de deixar a Escócia, para nova viagem, Paton casou-se com a irmã de outro missionário. Chamada por Deus a trabalhar entre os povos mergulhados nas trevas das Novas Hébridas, ela serviu como fiel companheira de seu marido, por muitos anos.
De volta às ilhas, Paton foi constrangido pelo voto de todos os missionários a não voltar a Tana, mas abrir a obra na vizinha ilha de Aniwa. Dessa forma, tinha de aprender outra língua e começar tudo de novo. Na obra de preparar o terreno para a construção da casa, Paton ajuntou dois cestos de ossos humanos de vítimas comidas pelo povo da ilha!
"Quando essas pobres criaturas começavam a usar um pedacinho de chita, ou um saiote, era sinal exterior de uma transformação, apesar de estarem longe da civilização. E quando começavam a olhar para cima, e a orar Àquele a quem chamavam de 'Pai, nosso Pai', meu coração se derretia em lágrimas de gozo; e sei por certo que havia um coração divino nos céus que se regozijava também."
Contudo, como em Tana, Paton considerava-se imortal até completar a obra que lhe fora designada por Deus. Inúmeras vezes evitou a morte agarrando a arma levantada contra ele pelos selvagens para o matarem.
Por fim, a força das trevas unidas contra o Evangelho em Aniwa cedeu. Isso data do tempo em que cavou um poço na ilha. Para os indígenas, a água de coco, para satisfazer a sede, era suficiente, porque se banhavam no mar e usavam pouco a água para cozinhar - e nenhuma para lavar a roupa! Mas para os missionários, a falta de água doce era o maior sacrifício e Paton resolveu cavar um poço.
No início, os indígenas auxiliaram-no na obra, apesar de considerarem o plano, "do Deus de Missi dar chuva de baixo", concepção de uma mente avariada. Mas depois, amedrontados pela profundeza da cavidade, deixaram o missionário a cavar sozinho, dia após dia, enquanto o contemplavam de longe, dizendo uns aos outros: - "Quem jamais ouviu falar em chuva que vem debaixo?! Pobre Missi! Coitado!" Quando o missionário insistia em dizer que o abastecimento de água em muitos países vinha de poços, eles respondiam: - "É assim que se dá com os doidos; ninguém pode desviá-los de suas idéias loucas."
Depois de longos dias de labor enfadonho, Paton alcançou terra úmida. Confiava em Deus obter água doce, em resposta às suas orações; contudo, nessa altura, ao meditar sobre o efeito que causaria entre o povo, sentia-se quase tomado do horror ao pensar que podia encontrar água salgada. "Sentia-me", escreveu ele, "tão comovido que fiquei molhado de suor e tremia-me todo o corpo, quando a água começou a borbulhar debaixo e a encher o poço. Tomei um pouco de água na mão, levei-a à boca para prová-la. Era água! Era água potável! era água viva do poço de Jeová!"
Os chefes indígenas com seus homens a tudo assistiam. Era uma repetição, em ponto pequeno, dos israelitas rodeando Moisés, quando ele fez água sair da rocha. O missionário, depois de passar algum tempo louvando a Deus, ficou mais calmo, desceu novamente, encheu um jarro da"chuva que Deus Jeová lhe dava pelo poço", e entregou-o ao chefe. Este sacudiu o jarro para ver se realmente havia água dentro; então tomou um pouco na mão e, não satisfeito com isso, levou à boca um pouco mais. Depois de revolver os olhos de alegria, bebeu-a e rompeu em gritos: "Chuva! Chuva! É chuva mesmo! - Mas como a arranjou?" Paton respondeu: - "Foi Jeová, meu Deus, quem a deu da sua terra em resposta ao nosso labor e orações. Olhai e vede por vós mesmos como borbulha a terra!"
Não havia um homem entre eles que tivesse coragem de chegar-se perto da boca do poço; então formaram uma fila comprida e, segurando-se uns aos outros pelas mãos, avançaram até que o homem da frente pudesse olhar para dentro do poço; a seguir o que tinha olhado passava para a retaguarda, deixando o segundo olhar para a "chuva de Jeová, mui embaixo".
Depois de todos olharem, um por um, o chefe dirigiu-se a Paton e disse: "Missi, a obra de seu Deus Jeová é admirável, é maravilhosa! Nenhum dos deuses de Aniwa jamais nos abençoou tão maravilhosamente. - Mas, Missi, Ele continuará para sempre a dar chuva por essa forma?, ou acontecerá como a chuva das nuvens?" O missionário explicou, para gozo indizível de todos, que essa bênção era permanente e para todos os aniwanianos.
Os nativos experimentaram, durante os anos que se seguiram, em seis ou sete dos lugares mais prováveis, perto de várias vilas, cavar poços. Todas as vezes que o fizeram ou encontraram pederneira ou o poço dava água salgada. Diziam entre si: - "Sabemos cavar, mas não sabemos orar como Missi e, portanto, Jeová não nos dá chuva debaixo!"
Num domingo, depois que Paton alcançou água do poço, o chefe Namakei convocou o povo da ilha. Fazendo seus gestos com a machadinha na mão, dirigiu-se aos ouvintes da seguinte maneira: - "Amigos de Nakamei, todos os poderes do mundo não podiam obrigar-nos a crer que fosse possível receber chuva das entranhas da terra, se não a tivéssemos visto com os próprios olhos e provado com a boca... Desde já, meu povo, devo adorar o Deus que nos abriu o poço e nos dá chuva debaixo. Os deuses de Aniwa não podem socorrer-nos como o Deus de Missi. Para todo o sempre sou um seguidor de Deus Jeová. Todos vós que quiserdes fazer o mesmo, tomai os ídolos de Aniwa, os deuses que nossos pais temiam e lançai-os aos pés de Missi... Vamos a Missi para ele nos ensinar como devemos servir a Jeová... que enviou seu Filho Jesus para morrer por nós e nos levar aos céus."
Durante os dias que se seguiram, grupo após grupo, alguns dos silvícolas com lágrimas e soluços, outros aos gritos de louvor a Jeová, levaram seus ídolos de pau e pedra, os quais lançaram em montes perante o missionário. Os ídolos de pau foram queimados, os de pedra enterrados em covas de quatro a cinco metros de profundidade e alguns, de maior superstição, foram lançados no fundo do mar, longe da terra.
Um dos primeiros passos da vida cotidiana da ilha, depois de destruírem os ídolos, foi a invocação da bênção do Senhor às refeições. O segundo passo, uma surpresa maior e que também encheu o missionário de gozo, foi um acordo entre eles de fazer culto doméstico de manhã e à noite. Sem dúvida esses cultos eram misturados, por algum tempo, com muitas das superstições do paganismo.
Mas Paton traduziu as Escrituras, e as imprimiu na língua aniwaniana e ensinou o povo a lê-las. A transformação do povo da ilha foi uma das maravilhas dos tempos modernos. Como arde o coração ao ler acerca da ternura que o missionário sentia para com esses amados filhos na fé, e do carinho com que esses, outrora cruéis selvagens que comiam uns aos outros, mostravam para com o missionário!
Paton descreveu a primeira Ceia do Senhor com as seguintes palavras: "Ao colocar o pão e o vinho nas mãos, outrora manchadas do sangue de antropofagia, agora estendidas para receber e participar dos emblemas do amor do Redentor, antecipei o gozo da glória até o ponto de o coração não suportar mais. É-me impossível experimentar delícia maior antes de eu poder fitar o rosto glorificado do próprio Senhor Jesus Cristo!"Deus, não somente concedeu ao nosso herói o indizível gozo de ver os aniwanianos irem evangelizar as ilhas vizinhas, mas também de ver seu próprio filho, Frank Paton, e esposa, morando na ilha de Tana e continuando a obra que ele começara com o maior sacrifício.
Foi com a idade de 83 anos, que João G. Paton ouviu a voz de seu precioso Jesus, chamando-o para o lar eterno. Quão grande o seu gozo, não somente ao reunir-se aos seus queridos filhos das ilhas do Sul do Pacífico, que entraram no Céu antes dele, mas, também, saudar bem-vindos os outros ao chegarem ali, um por um!
Tiago Taylor, o pai de Hudson, não somente orava fervorosamente por seus cinco filhos, mas ensinou-os a pedirem detalhadamente a Deus todas as coisas. Ajoelhados, diariamente, ao lado da cama, o pai colocava o braço ao redor de cada um enquanto orava insistentemente por ele. Desejava que cada membro da família passasse, também, ao menos meia hora, todos os dias, perante Deus, renovando a alma por meio de oração e estudo das Escrituras.
Não é de admirar, portanto, que, ao crescer, Hudson se consagrasse inteiramente a Deus. O grande segredo do seu incrível êxito é que em tudo que carecia, no sentido espiritual ou material, recorria a Deus e recebia dos tesouros infinitos.
A chamada de Deus, apesar de Hudson Taylor quase nunca a mencionar, ardia como um fogo dentro do seu coração. Copiamos a seguir o seguinte trecho de uma das cartas enviada a sua irmã:
"Imagina, centenas de milhões de almas sem Deus, sem esperança, na China! Parece incrível; milhões de pessoas morrem dentro de um ano sem qualquer conforto do Evangelho!... Quase ninguém liga importância à China, onde habita cerca da quarta parte da raça humana... Ora por mim, querida Amélia, pedindo ao Senhor que me dê mais da mente de Cristo... Eu oro no armazém, na estrebaria, em qualquer canto onde posso estar sozinho com Deus. E ele me concede tempos gloriosos... Não é justo esperar que V... (a noiva de Hudson) vá comigo para morrer no estrangeiro. Sinto profundamente deixá-la, mas meu Pai sabe qual é a melhor coisa e não me negará coisa alguma que seja boa..."
A falta de espaço não permite relatarmos aqui o heroísmo da fé que o jovem mostrou suportando os sacrifícios e as privações necessárias para cursar a escola de medicina e de cirurgia para melhor servir o povo da China.
A viagem que esperavam realizar em quarenta dias levou cinco meses e meio! Somente em 1 de março de 1854, Hudson Taylor, com a idade de vinte e um anos, conseguiu desembarcar em Shanghai.
Durante os primeiros três meses na China, distribuiu 1.800 Novos Testamentos e Evangelhos e mais de 2 mil livros. Durante o ano de 1855, fez oito viagens - uma de trezentos quilômetros, subindo o rio Yangtzé. Em outra viagem visitou cinqüenta e uma cidades onde nunca antes se ouvira a mensagem do Evangelho. Nessas viagens foi sempre prevenido do perigo que corria a sua vida entre um povo que nunca tinha visto estrangeiros.
Para ganhar mais almas para Cristo, apesar da censura dos demais missionários, adotou o hábito de vestir-se como os chineses. Rapou a cabeça na frente, deixando o resto dos cabelos a formar trança comprida. A calça, que tinha mais de meio metro de folga, ele a segurava conforme o costume, com um cinto. As meias eram de chita branca, o calçado de cetim. O manto pendendo dos ombros, sobressaía-lhe a ponta dos dedos das mãos mais que setenta centímetros.
Em 20 de janeiro de 1858, Hudson Taylor casou-se com Maria Dyer, uma missionária de talento na China. Desse enlace nasceram cinco filhos. A casa em que moraram primeiro, na cidade de Ningpo, tornou-se depois o berço da famosa Missão do Interior da China.
As privações e os encargos de serviço em Shanghai, Ningpo e outros lugares eram tais que Hudson Taylor, antes de completar seis anos na China, foi obrigado a voltar à Inglaterra para recuperar a saúde. Foi para ele quase como que uma sentença de morte quando os médicos informaram-lhe de que nunca mais devia voltar à China.
Entretanto, o fato de perecerem mais de um milhão de almas todos os meses na China era uma realidade para Hudson Taylor; com seu espírito indômito, ao chegar à Inglaterra, iniciou imediatamente a tarefa de preparar um hinário e a revisão do Novo Testamento para os novos convertidos que deixara na China. Usando ainda o traje de chinês, trabalhava tendo o mapa da China na parede e a Bíblia sempre aberta sobre a mesa. Depois de alimentar-se e fartar-se da Palavra de Deus, fitava o mapa, lembrando-se dos que não tinham tais riquezas. Todos os problemas ele os levava a Deus; não havia coisa alguma demasiado grande, nem tão insignificante, que a não deixasse com o Senhor em oração.
Em razão de suas atividades, estava tão sobrecarregado de correspondência e nos trabalhos dos cultos em prol da China, que após a sua chegada passaram-se mais de vinte dias antes de conseguir abraçar seus queridos pais em Bransley.
Passava, às vezes, a manhã, outras vezes a tarde, em jejum e oração. O seguinte trecho que ele escreveu mostra como a sua alma continuou a arder nos seus discursos nas igrejas da Inglaterra, sobre a obra missionária.
Era um domingo, 25 de junho de 1865, de manhã, à beira-mar. Hudson Taylor, cansado e doente, estava com alguns amigos em Brighton. Mas não podendo suportar mais o regozijo da multidão na casa de Deus, retirou-se para andar sozinho nas areias da maré vazante. Tudo em redor era paz e bonança, mas na alma do missionário rugia uma tempestade. Por fim, com alívio indizível, clamou: "Tu, Senhor, tu podes assumir todo o encargo. Com tua chamada, e como teu servo, avançarei, deixando tudo nas tuas mãos."
Assim "a Missão do Interior da China foi concebida na sua alma e todas as etapas do seu progresso realizaram-se por seus esforços. Na calma do seu coração, na comunhão profunda e indizível com Deus, originou-se a missão."Com o lápis na mão, abriu a Bíblia e, enquanto as ondas do vasto mar batiam aos seus pés, escreveu as simples mas memoráveis palavras: "Orei em Brighton pedindo vinte e quatro trabalhadores competentes e dispostos, em 25 de junho de 1865".
O vitorioso missionário, juntamente com a família e os vinte e quatro chamados por Deus, embarcaram em Londres, no "Lammermuir", para a China em 26 de setembro de 1865.
A viagem levou mais que quatro meses. Superando várias tempestades durante a viagem.
Foram horas de grande regozijo quando o "Lammermuir", por fim, aportou, com todos sãos a bordo, em Shanghai.
No início de 1867, o Senhor chamou Graça Taylor, filha de Hudson Taylor, para o Lar Eterno, quando ela completava oito anos de idade. No ano seguinte, a senhora Taylor e o filho, Noel, faleceram de cólera. Foi assim que se expressou o pai e marido:
"Ao amanhecer o dia, apareceu à luz do sol o que fora ocultado pela luz de vela - a cor característica da morte no rosto da minha esposa. O meu amor não podia ignorar por mais, não somente o seu estado grave, mas que realmente ela estava morrendo. Ao conseguir acalmar o meu espírito, eu lhe disse:
- Sabes, querida, que estás morrendo?
- Morrendo! Achas que sim? Por que pensas tal coisa?
- Posso ver, que sim, querida. As tuas forças estão se acabando.
- Será mesmo? Não sinto qualquer dor, apenas cansaço.
- Sim, estás saindo para a Casa Paterna. Brevemente estarás com Jesus.
"Minha preciosa esposa, lembrando-se de mim e de como eu devia ficar sozinho, em um tempo de tão grandes lutas, privado da companheira com a qual tinha o costume de levar tudo ao trono da graça, disse:- Sinto muito!
Então ela parou, como que querendo corrigir o que dissera, porém eu lhe perguntei:
- Estás triste por causa da partida para estar com Jesus?
"Nunca me esquecerei de como ela olhou para mim e respondeu:
- Oh! não. Bem sabes, querido, que durante mais de dez anos, não houve sombra alguma entre mim e meu Salvador. Não estou triste por causa da partida para estar com Ele, mas me entristeço porque terás de ficar sozinho nessas lutas. Contudo... Ele estará contigo e suprirá tudo o que é mister."
"Nunca presenciei uma cena tão comovente" - escreveu o senhor Duncan. - "Com a última respiração da querida senhora Taylor, o senhor Taylor caiu de joelhos, o coração transbordando, e a entregou ao Senhor, agradecendo-lhe a dádiva e os doze anos e meio que passaram juntos. Agradeceu-lhe, também, pela bênção de Ele mesmo a levar para a sua presença. Então, solenemente dedicou-se a si mesmo novamente ao serviço do Mestre.
Quase seis anos depois de o grupo do "Lammermuir" haver desembarcado na China, Hudson Taylor estava novamente na Inglaterra. Durante esse tempo da obra na China, a missão aumentava de duas estações com sete obreiros, para treze estações com mais de trinta missionários e cinqüenta obreiros, estando separadas as estações, uma da outra, na média de cento e vinte quilômetros.
Foi durante essa visita à Inglaterra que Hudson Taylor se casou com Miss Faulding, também fiel e provada missionária na China.
Foi em 1874 quando, com a esposa, subiam o grande rio Yangtze e ele meditava sobre as nove províncias que se estendiam dos trópicos de Burma ao planalto de Mongólia e as montanhas de Tibete, que Hudson Taylor escreveu:
Mas, no meio da viagem, receberam notícias da morte da fiel missionária Amélia Blatchley, na Inglaterra. Ela não somente cuidava dos filhos do senhor Taylor, mas também servia como secretária da Missão.
Grande foi a tristeza de Hudson Taylor ao chegar à Inglaterra e achar não somente os seus queridos filhos separados e espalhados, mas a obra da Missão quase paralisada. Mas isso não foi ainda a sua maior tristeza. Na sua viagem pelo rio Yangtze, o senhor Taylor, ao descer a escada do navio, levou uma grande queda, caiu sobre os calcanhares e de tal maneira que o choque ofendeu a espinha dorsal. Depois que chegou à Inglaterra o incômodo da queda agravou-se até ele ficar acamado. Sobreveio-lhe então a maior crise da sua vida, justamente quando havia maior necessidade de seus esforços. Completamente paralítico das pernas, tinha de passar todo o tempo deitado de costas!
Uma pequena cama era a sua prisão; é melhor dizer que era a sua oportunidade. Ao pé da cama, na parede, estava afixado um mapa da China. E ao redor dele, de dia e de noite, estava a presença divina.
Aí, de costas, mês após mês, permaneceu o nosso herói, rogando e suplicando ao Senhor a favor da China. Foi-lhe concedida a fé para pedir que Deus enviasse dezoito missionários. Em resposta aos seus apelos para oração, escritos com a maior dificuldade e publicados no jornal, sessenta moços responderam de uma vez. Dentre eles, vinte e quatro foram escolhidos. Ali, ao lado do leito, ele iniciou aulas para os futuros missionários e ensinou-lhes as primeiras lições da língua chinesa - e o Senhor os enviou para a China.
Lê-se o seguinte acerca de como o missionário inutilizado em corpo, nesse tempo, ficou bom:
"Ele foi tão maravilhosamente curado, em resposta à oração, que podia cumprir com um incrível número de suas obrigações. Passou quase todo o tempo das férias, com seus filhos em Guernsey, escrevendo. Durante os quinze dias que passou ali, apesar de desejar compartilhar da delícia da linda praia, com seus filhos, saiu com eles apenas uma vez. Mas as cartas que enviou para a China e outros lugares valiam mais do que ouro."
Um segredo do seu grande êxito de levar a mensagem de salvação ao interior da China era a determinação de que a obra não somente continuasse com caráter internacional, mas também, interdenominacional - que aceitasse missionários dedicados a Deus, de qualquer nação e de qualquer denominação.
A gloriosa colheita de almas na China aumentava cada vez mais. Mas a situação política do país piorava dia após dia até culminar na Carnificina dos Boxers, no ano de 1900, quando centenas de crentes foram mortos. Somente da China Inland Mission pereceram cinqüenta e oito missionários, e vinte e um de seus filhos.
Hudson Taylor, com a sua esposa, estavam novamente na Inglaterra, quando começaram a chegar telegrama após telegrama avisando-os dos horripilantes acontecimentos na China; aquele coração que tanto amava a cada missionário, quase cessou de pulsar. Acerca desse acontecimento assim se manifestou: "Não sei ler, não sei pensar, nem mesmo sei orar, mas sei confiar."
Certo dia, alguns meses depois, Hudson Taylor, com o coração transbordante e as lágrimas correndo-lhe pelas faces, estava contando o que lera em uma carta que acabara de receber de duas missionárias, escrita um dia antes de elas morrerem nas mãos dos boxers.
Foi em 30 de julho de 1904 que sua esposa faleceu. "Não sinto nada de dor, nada de dor", dizia ela, apesar da ânsia em respirar. Então, de madrugada, percebendo a angústia de espírito do seu marido, pediu-lhe que orasse rogando ao Senhor que a levasse logo. Foi a oração mais difícil da vida de Hudson Taylor, mas por amor dela, ele orou pedindo a Deus que libertasse o espírito da sua esposa. Logo que orou, dentro de cinco minutos cessou a ânsia e não muito depois ela adormeceu em Cristo.
A desolação de espírito de Hudson Taylor sentiu depois da partida da sua fiel companheira era indescritível. Todavia, achou indizível paz nesta promessa: "A minha graça te basta." Começou a recuperar as forças físicas e na primavera fez a sua sétima viagem aos E.U.A. Daí fez a última viagem à China, desembarcando em Shanghai em 17 de abril de 1905.
O valente líder da Missão, depois de tão prolongada ausência, foi recebido em todos os lugares com grandes manifestações de amor e estima da parte dos missionários e crentes, especialmente dos que escaparam dos intraduzíveis espetáculos da insurreição dos Boxers.
Em Chin-Kiang, o veterano missionário visitou o cemitério onde estão gravados os nomes de quatro filhos e o da esposa. As recordações eram motivo de grande gozo, isto é, o dia da grande reunião se aproximava.
No meio da viagem, quando visitava as igrejas na China, sem ninguém esperar, nem ele mesmo, findou a sua carreira na terra. Isso aconteceu na cidade de Chang-sha em 3 de junho de 1905.
Sua nora contou o seguinte, sobre esse acontecimento:"O querido papai estava deitado. Como sempre gostava de fazer, tirou as cartas, dos queridos, da sua carteira e as estendeu sobre a cama. Baixou-se para ler uma das cartas perto do candeeiro aceso colocado na cadeira ao lado do leito. Para que ele não se sentisse demasiadamente incomodado, puxei outro travesseiro e o coloquei por baixo da sua cabeça e assentei-me numa cadeira ao seu lado. Mencionei as fotografias da revista, Missionary Review, que estava aberta sobre a cama. Howard tinha saído para ir buscar algo para comer, quando papai, de repente, virou a cabeça e abriu a boca como se quisesse espirrar. Abriu a boca a segunda, e a terceira vez. Não clamou; não pronunciou qualquer palavra. Não mostrou qualquer dificuldade para respirar - nada de ânsia. Não olhou para mim, e não parecia cônscio... Não era a morte, era a entrada na vida imortal. Seu semblante era de descanso e sossego. Os vincos do rosto feitos pelo peso da luta de longos anos pareciam haver desaparecido em poucos momentos. Parecia dormir como criança no colo da mãe; o próprio quarto parecia cheio de indizível paz."
Na cidade de Chin-Kiang, à beira do grande rio que tem a largura de mais de dois quilômetros, foi enterrado o corpo de Hudson Taylor.
Postado por PR. CLEBER BARROS- cleberbarros2@hotmail.com às 00:59 1 comentários
Marcadores: Missões
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