Introdução a Hermenêutica
O QUE É HERMENÊUTICA?
É a ciência e/ou arte de
interpretar e explicar um pensamento. O objetivo da hermenêutica das Escrituras
está em compreender e explicar o texto, ou seja, expressões e pensamentos
contidos nele.
I.
REGRAS
FUNDAMENTAIS
1.
Pedir
constante orientação divina
O cristão ao examinar as
Escrituras deve pedir orientação a Deus para compreender o real sentido do
texto apreciado. Oração, reverência e humildade deve acompanhar o estudo das Escrituras.
2.
Observar
o texto com muita atenção
O texto deve ser lido com muita
atenção, sem pressa para retirar conclusões do texto. Deve-se ler a passagem
bíblica várias vezes, sublinhando as palavras que se repetem, para identificar
as palavras-chaves do texto. Em Gl 3, as palavras-chaves são fé e lei, devido
ao número de vezes que Paulo se refere a elas nesse capítulo.
3.
Interprete
a passagem de acordo com o seu contexto
Assim como não lemos somente um
parágrafo de uma carta que recebemos, não devemos ler um texto isolado do seu
contexto. Isolar um texto do seu contexto induz a uma interpretação errônea. O
texto de Fp 4.13, isoladamente, parece nos mostrar que podemos fazer qualquer
coisa porque o Senhor nos fortalece. No entanto, se observarmos Fp 4.10-13, a
passagem completa, veremos o verdadeiro significado do texto: podemos suportar todas as situações, pois o
Senhor nos fortalece.
Podemos classificar os
contextos em:
Imediato – A
passagem completa ou o capítulo do texto;
Próximo – O
livro do texto;
Remoto –
Outro(s) livro(s) da Bíblia.
4.
Observar
o pano de fundo histórico da passagem
Não basta conhecermos bem o
texto para fazermos uma boa interpretação, pois os textos bíblicos possuem
diversas particularidades. Quem foi o autor da passagem? Em que época ele
proferiu o texto? Quem foi seu destinatário? Qual a situação econômica? Social?
Política? Religiosa?
Na passagem de Amós 4.1,
exemplificando, podemos observar a importância do conhecimento do fundo
histórico. Qual era a profissão de Amós? Onde se situava Basã? Como eram
criadas as vacas em Basã? Respondendo a essas perguntas teremos uma compreensão
mais plena do texto.
5.
Identificar
os tipos de literatura
A Bíblia é rica em diversidade
de gêneros literários: textos históricos; oráculos; poesias; hinos; provérbios;
alegorias; cânticos; orações; sermões; cartas; literatura apocalíptica, entre
outros.
6.
Não
interpretar passagens literais como figurada nem vice-versa
Devemos tomar cuidado com o
texto a ser estudado na seguinte questão: o texto é literal ou figurado? É de
suma importância identificar se o texto faz uso de linguagem denotativa
(literal) ou conotativa (figurada) porque tal fator pode alterar completamente
o sentido original do texto. Em Lc 19.40, o clamor das pedras é literal ou
figurado?
Concluímos, diferentemente da
interpretação mais difundida, que Jesus simplesmente quis dizer que era
impossível fazer os seus discípulos se calarem, visto que haviam testemunhado a
mensagem poderosa Dele, assim como era impossível que as pedras clamassem. A
possibilidade das pedras clamarem era a mesma dos discípulos pararem de
anunciar as boas novas do Cristo.
7.
Descobrir
os diversos significados de uma palavra
Muitas palavras têm vários
significados. A palavra manga na língua portuguesa é um ótimo exemplo, pois só
iremos identificar se o texto se refere à fruta ou ao pano pelo contexto em que
a palavra está inserida. Na interpretação textual, para podermos identificar o
real sentido do termo no texto em questão, devemos tomar cuidado com palavras
que possuem mais de um significado. A palavra Israel, por exemplo, pode
significar o filho de Isaque; as doze tribos da nação israelita; somente as
tribos do Norte; somente Judá; ou ainda a Igreja.
8.
Interprete
as palavras no sentido que tinham no tempo do autor
Deve-se interpretar o texto
tendo em vista o significado que tinha para o receptor original. Se não
descobrirmos o sentido primário do texto, não poderemos interpretá-lo
corretamente. Não se deve pular palavras de significado desconhecido, mas sim
determinar o sentido que ela tinha para o autor, objetivando compreender o
pensamento do autor e não somente especularmos o que achamos que ele disse.
9.
Tirar
as ideias do texto e não vice-versa
A função do intérprete é
descobrir o significado dos textos bíblicos para poder aplicá-lo corretamente.
O que deve interessar ao intérprete da Bíblia é a mensagem que ela quer
transmitir e não o desejo de encontrar base para uma ideia própria.
Um preletor, certa feita,
utilizando a passagem de Hb 10.31ª “...
nas mãos do Deus vivo.”, trouxe uma mensagem sobre a qual devemos confiar no
poder e na proteção que está nas mãos de Deus. A mensagem foi bíblica, mas o
texto foi usado incorretamente, pois o texto se refere ao juízo de Deus aos
cristãos que estavam prestes a abandonar a fé cristã e retornar ao judaísmo.
10. Lembrar
que a Bíblia é livro de religião e não de ciência.
A Bíblia não é um tratado
científico e sim um tratado de religião brilhante e inigualável. Por isso, a
Bíblia não precisa de nenhuma revisão, pois se fosse um tratado científico
deveria ser constantemente alvo de revisão, porque, muitas vezes, o que a
ciência prega hoje será ultrapassado daqui a dez anos.
A Bíblia fala a linguagem dos
que foram originalmente seus receptores. Lv 11.13-19, por exemplo, classifica o
morcego como ave. Atualmente, a ciência classifica o morcego como mamífero.
Parece-nos um erro grosseiro da Bíblia, porém, na época, simplesmente o morcego
por voar era classificado como ave.
11. Não
valorizar em demasia as divisões oferecidas pelas versões
Originalmente, a Bíblia foi
escrita sem as divisões de capítulos e versículos, as quais foram feitas, muito
tempo depois, para facilitar a leitura. Até mesmo as divisões oferecidas pelas
versões modernas muitas vezes nos atrapalham. Is 53, por exemplo, deveria
começar em Is 52.13; os salmos 42 e 43, na realidade, não são dois, mas somente
um; At 8.1ª pertence ao versículo sessenta do capítulo sete de Atos. Devemos
ser cuidadosos e não valorizar demasiadamente as divisões que nos são
oferecidas hoje.
12. Interpretar
textos difíceis à luz de textos fáceis
As passagens bíblicas consideradas
difíceis, que não são poucas, com aparente contradição, termos raros, devem ser
interpretadas à luz de textos mais claros e inconfundíveis. Assim como há
textos de fácil compreensão, há textos de quase impossibilidade de
interpretação plena, por falta de informações suficientes para elucidá-lo nos
seus detalhes. Isto não deve desmotivar o intérprete e sim motivá-lo a uma
melhor compreensão das verdades bíblicas.
13. Interprete
a experiência pessoal à luz da Bíblia e não vice-versa
As nossas experiências
pessoais, sejam quais forem, devem ser interpretadas à luz da Bíblia e nunca o
inverso. A experiência pessoal tem o seu valor na vida cristã, mas deve ocupar
o seu devido lugar. Devemos permitir que a Bíblia interprete e amolde as nossas
experiências pessoais, ao invés de interpretarmos a Bíblia através das lentes
de nossas experiências.
14. Os
exemplos bíblicos só têm autoridade amparados por uma ordem
Ao ler a Bíblia, torna-se
evidente que não devemos seguir o exemplo de cada personagem nela registrado.
Não precisamos trair Jesus como Judas ou desafiarmos os líderes egípcios como
fez Moisés. Jesus é o maior exemplo que temos a seguir, mas nem por isso
devemos imitá-lo em todos os aspectos de sua vida. Jesus, por exemplo, nunca
casou, isso não impede o matrimônio dos cristãos; o meio de transporte que ele
usou foi um jumento, isso não nos impede que usemos outros meios de transporte;
usava vestidos longos e alparcas, isso não nos impede de usarmos roupas
adequadas para a nossa época.
Os
mandamentos bíblicos têm autoridade para serem cumpridos, pois são ordens, o
que não acontece com os exemplos bíblicos, a não ser que sejam amparados por
uma ordem ou ilustrem uma ordem bíblica.
15. Compreensão gramatical e compreensão teológica
É necessário compreender
gramaticalmente a Bíblia para depois compreendê-la teologicamente. Precisamos
entender primeiramente o que diz a passagem antes de extrair dela quaisquer
conclusões doutrinárias. É impossível fazermos uma boa interpretação de um
texto se não compreendermos o sentido de cada palavra. Como poderíamos
interpretar teologicamente, por exemplo, Romanos 4 sem entender gramaticalmente
o significado de alguns termos como justificação, galardão, graça, circuncisão,
imputar, posteridade?
16. Considere as figuras de linguagem
utilizadas na Bíblia
Os escritores da Bíblia usaram
claramente figuras de linguagem em seus escritos. Abaixo, as principais figuras
utilizadas:
Metáfora – Consiste em atribuir a uma palavra
características de outra em função de uma analogia estabelecida de forma bem
sugestiva. Ex: Zc 3.8
Hipérbole – Ocorre quando, para realçar uma
ideia, exagera-se na sua representação. Ex: Dt 1.28
Ironia – Emprego de palavras que, na frase, têm
sentido oposto ao que se quer dizer., normalmente usadas em tom sarcástico. Ex:
Gn 3.22
Prosopopeia – Consiste em dar características
humanas ou em dar vida e ação a seres inanimados ou irracionais. Ex: Sl 35.10
Alegoria – Narrativa em que pessoas ou objetos
representam ideias ou princípios. Ex: Gl 4.21
Enigma – Descrição obscura ou ambígua, mas
verdadeira, que se faz de uma coisa, para que outrem diga o nome dessa coisa. É
o que popularmente chamamos de adivinhação. Ex: Jz 14.14
Parábola – Narrativa real ou imaginária que
tanto as pessoas como as coisas e suas ações correspondem a verdades
espirituais ou morais. Ex: Mt 13.24-30
Antropomorfismo – Linguagem que atribui a Deus
características físicas ou atitudes humanas. Ex: Gn 8.21
Metonímia – Consiste no emprego de uma palavra
por outra com a qual ela se relaciona. Ex: Lc 16.29
17. Definir
promessas gerais e específicas
É necessário definir em qual
categoria as promessas bíblicas se enquadram: gerais ou específicas.
Promessas
gerais – Quando foram escritas não visavam particularmente nenhuma
pessoa ou época particular. Ex: Jo 3.16
Promessas
específicas – Quando foram escritas visavam indivíduos
específicos em ocasiões específicas. Para ser válida para nós, tem que ser
feita individualmente a nós como aos destinatários originais. Ex: At 16.31
II.
PARALELISMOS
Verbais – A mesma palavra em diferentes textos.
Ex: Graça (Jo 1.16-17; Tt 2.11; Rm 5.15; 1 Co 1.4)
Reais – Textos diversos tratando do mesmo
assunto. Ex: Getsêmani (Mt 26.36-46; Mc 14. 32-42; Lc 22.39-46; Jo 18.1-11)
III.
TIPOS E
ANTÍTIPOS
A tipologia bíblica é
vastíssima e instrutiva. Quando o intérprete estuda a Bíblia através dos tipos,
sem extremismo, pode obter um melhor conhecimento das Escrituras. O tipo é o
que tipifica algo. O antítipo é o cumprimento do tipo. Para efeito de estudo,
os tipos são classificados em duas classes:
1.
Históricos
a)
Pessoais
Adão – Cristo
Melquisedeque – Cristo
Moisés – Cristo
b)
Coletivos
Israel liberto da opressão egípcia – Igreja
Israel peregrinando no deserto – Igreja
Israel adentrando a Terra Prometida – Igreja
2.
Rituais
Tabernáculo – Cristo
O holocausto – Cristo
As ofertas legais – Cristo
Seu blog é encantador, estive a ver e ler algumas coisas, não li muito, porque espero voltar mais algumas vezes,mas deu para ver a sua dedicação e sempre a prendemos ao ler blogs como o seu. Se me der a honra de visitar e ler algumas coisas no Peregrino e servo ficarei radiante, pode deixar um comentário, e se desejar fazer parte de meus amigos virtuais, esteja à vontade, irei retribuir.Mas por favor não se sinta coagido, siga apenas se desejar. Abraço.
António.
Ótimo
Postar um comentário