sexta-feira, 16 de abril de 2010

Introdução Bíblica

A própria palavra Bíblia praticamente diz o que significa. Bíblia é um substantivo comum dado à reunião dos livros do Antigo e do Novo Testamentos.
A palavra Bíblia vem do grego biblion (biblion),que é diminutivo do plural neutro, também grego, biblos (bibloj) que significa livros ou livretos.
Na verdade, a palavra Bíblia significa livros, já que é uma biblioteca num único livro e que contém 66 livros se for a protestante, 73 se for a católica e 24, divididos em 3 partes, se for a judaica.
A Bíblia protestante que contém 66 livros é dividida em 39 livros no Antigo Testamento (AT) e 27 no Novo Testamento (NT).
O termo biblos que traduzido para Bíblia, tem sua origem vinda da entrecasca da planta do papiro, que é uma cana ou junco que cresce às margens do Rio Nilo, na África e também em outros rios do Oriente. Esta planta, como também o pergaminho e outros materiais, era utilizada para a escrita.

A forma da Bíblia
No início do mundo as histórias se fixavam através das tradições orais, isto é, de pais para filhos ou de adultos para crianças. A vida simples, os eventos notáveis e as próprias repetições garantiram a durabilidade e a propagação desses relatos.
A Bíblia foi preservada através de vários séculos pelos manuscritos. Manuscrito é uma palavra de origem latina que significa o que foi escrito à mão, pois manus - mão; scriptus - escrito.
Antigamente, bem mais do que hoje em dia, todos os documentos, eram escritos ou copiados à mão. Como naquela época não existia o papel como temos hoje, eles utilizavam vários materiais. Por isso a Bíblia foi escrita em papiro ou pergaminho.
a. Papiro: palavra da qual se originou papel. É uma cana ou junco que cresce às margens do rio Nilo (África) e outros rios do Oriente. Da casca desta planta se faziam folhas entrelaçadas para os manuscritos. Estas folhas tem entre 15 e 27cm de comprimento e o papiro chegava atingir de 2 a 4 metros. O caule mede aproximadamente 6 cm de diâmetro. Este era cortado em seções ou tiras longas de 30cm de comprimento, após a extração do miolo eram colocadas uma sobre a outra, formando ângulos retos (90º) até chegarem a uma grossa espessura. Depois eram prensadas até formarem um só tecido, ou melhor, o papel e, finalmente, este era preso em varas de madeiras. A tinta utilizada era a mistura de fuligem e goma e como pena utilizavam um junco afilado. A planta do papiro enraíza-se no lodo do rio (Ex 2.3; Jó 8.11; Is 18.2) e termina em formato de guarda chuva, ou melhor, folhas lanceoladas. A prática de coser folhas de papiro e formar um livro não era comum, a não ser aproximadamente cem anos (100 d.C.) após a morte de Paulo, segundo alguns estudiosos.
b. Pergaminho: este nome vem do latim pergamina, o qual vem do grego Pergamon (Pergamon) ,isto é, Pérgamo, que era uma célebre cidade da província romana na Ásia, banhada pelos rios Selino e Cétio. segundo algumas fontes, foi ali que se fabricou pela primeira vez o pergaminho. Segundo Plínio, o nome pergaminho teve origem com o que aconteceu com o rei de Pérgamo, Êumenis II, em 160 a.C. Este rei planejou forjar uma biblioteca maior do que a de Alexandria, no Egito. O rei deste País, por inveja, proibiu a exportação de Papiro para Pérgamo, obrigando, desta forma, o rei Êumenis II a recorrer ao processo de preparar peles de animais para a escrita. Assim surgiu um novo método de preparação de papel para a escrita. Este foi tão aperfeiçoado e tornou-se tão abundante e famoso no 2º século que recebeu o nome de pergaminho. Na verdade, o pergaminho era a pele ou o couro de gado, ovelha, carneiro, cabra e antílopes. Onde o pêlo era retirado e o couro era amaciado com pedras especialmente preparadas para esta finalidade. Através deste processo o couro era transformado em folhas finas e tratado para apresentar uma superfície macia. Havia também um pergaminho de qualidade superior que era chamado de vellum. Normalmente o pergaminho era tingido de púrpura ou tintas de ouro e prata. Eram guardados em forma de rolos ou longas tiras enroladas pelos dois extremos, de forma bem cuidadosa.
Existiram também outros materiais que foram utilizados para a escrita pelos povos antigos e alguns até foram registrados pela própria Bíblia. Havia a argila, em forma de tijolos cozidos ou não cozidos; o ostracom, que eram fragmentos de cerâmicas que já não serviam para outros fins; o bronze; a cera ou melhor, as tábuas que eram revestidas de cera (Is 8.1, 30.8; Lc 1.63); o chumbo (Jó 19.23,24); a madeira; o ouro, principalmente nas moedas e jóias (Ex 28.36); e a pedra.
AS LÍNGUAS DA BÍBLIA
Apesar de hoje vermos tantas Bíblias das mais variadas formas, tamanhos, cores e também nas diversas línguas existentes, precisamos saber que a Bíblia não foi escrita na nossa língua e nem nas línguas que hoje são as mais utilizadas, faladas ou até mesmo conhecidas e nem em latim.
A Bíblia foi escrita nas línguas hebraica, grega e, contém alguns textos que foram escritos, em aramaico.
Após a fixação do cânon hebraico do AT e da integração do mesmo nas Escrituras Sagradas, os sábios de Israel continuaram a zelar pelo texto vétero-testamentário e durante séculos porfiaram pela conservação e vocalização dele. Havia a necessidade de conservá-lo por causa do material que continha a escrita (os papiros). Esses sábios foram chamados de massoretas, que vem do hebraico massora (xrsm) e que significa tradição.
Os massoretas eram judeus eruditos que se dedicavam a fazer comentários às margens dos textos para esclarecê-los. É bom lembrar que, até então, o hebraico só continha consoantes, ficando a pronúncia na dependência de contatos pessoais que naquela época eram feitos em tradição oral. Por isso eles continuaram a zelar não só pela conservação, como pela vocalização do texto vétero-testamentário, como é citado acima. Para que isto acontecesse, os massoretas criaram um sistema de representação de sons vocálicos, de modo que a pronúncia original hebraica ficou preservada. Isto ajudou muito aos cristãos, se este sistema não existisse e perdurasse até a sua época o hebraico teria sumido, ou melhor, acabado.
Há relatos de que a cópia dos textos sagrados era uma das maiores obsessões dos hebreus e que depois passou a ser dos judeus também. Afirmam, alguns estudiosos, que eles tomavam um banho e trocavam de pena cada vez que tinham de escrever o nome de Iavé (hwhy), cujo significado para nós, hoje em dia, é Deus.
Realmente a Bíblia é cheia de belas histórias. Mas como podemos ver elas começam na sua formação e preservação. Como já foi dito, ela foi escrita nas línguas hebraico, grego e aramaico. Para que haja uma maior compreensão vamos falar um pouco de cada uma.

A Língua Hebraica
É a língua em que a maior parte do AT foi escrito. O alfabeto hebraico contém vinte e três (23) consoantes e se escreve da direita para a esquerda. A sua escrita tem forma quadrática e não contém muitos sinônimos e que é de uma natureza direta, concreta e franca.
Os sinais que se encontram na Bíblia Hebraica de hoje em dia e que ficam acima ou abaixo das letras, são os chamados sinais massoréticos e formam as vogais da língua hebraica. Estes são os sinais criados pelos massoretas visando a preservação da fala e da língua.
Após o cativeiro babilônico o hebraico passou a ser usado como a língua literária e nos ofícios da religião, pois caiu em desuso porque a língua aramaica tomou o seu lugar. Isto ocorreu porque os judeus que estavam no cativeiro babilônico aprenderam a falar o aramaico. É por isso que existem passagens na Bíblia que foram escritas em aramaico, mas estas são poucas (Jr 10.11; Dn 2.4-7.28; Ed 4.8-6.8; 7.12-26). Nota-se então, que há uma necessidade de conhecer esta outra língua em que a Bíblia foi escrita.
A Língua Aramaica
O aramaico é da mesma família do hebraico, mas de um ramo semítico diferente, o setentrional. Era a língua do povo de Arã, que ocupava uma parte da Mesopotâmia Superior mais conhecida como Arã-Naaraim, que significa Arã dos dois rios e Padã-Arã (~ra-!DP), que significa Planície de Arã.
Na Assíria e na Babilônia o aramaico suplantou a língua assíria e ali prevaleceu até o domínio árabe.
Com o domínio babilônico a língua hebraica começou a ser abandonada pelos judeus e estes começaram a falar a língua aramaica. O aramaico era a língua internacional para a diplomacia e para o comércio, também era o veículo principal de comunicação entre o governo persa e os seus súditos. Lógico que isto foi após o estabelecimento do Império Persa.
Nas sinagogas as Escrituras eram lidas no hebraico, porque a classe culta da Palestina nunca deixou de estudar e falar o hebraico, pelo menos até 200 d.C. Como o povo já não falava mais o hebraico, surgiu a necessidade de que alguém traduzisse o texto para o aramaico, foi onde surgiu os Targuns.
A Língua Grega
Mesmo com os cativeiros e os domínios exercidos por povos de outras línguas e culturas, o hebraico continuou sendo a língua sagrada do povo. Mas com a expansão do Império Grego em 325 a.C., promovida por Alexandre o Grande, a língua grega tornou-se dominante em muitas nações conquistadas e entre elas estava o povo judeu. A maioria dos livros existentes foi traduzida para o grego, assim todos passaram a fazer parte da grande biblioteca Alexandrina e as Escrituras, no caso o AT, estava incluído entre estes livros. A tradução feita para o grego é mais conhecida como LXX (Septuaginta).
A língua grega trouxe consigo uma vasta cultura e como toda cultura teve o seu lado bom e o seu lado ruim. Todavia o grego expandiu-se amplamente e na época de Jesus ele já era falado e conhecido por muitas pessoas, mesmo assim a língua sagrada dos judeus continuava sendo o hebraico; a falada, o aramaico; a oficial, o latim (que era dos romanos); e a universal, o grego. Os judeus que habitavam na Judéia ou os estrangeiros que falavam o grego eram conhecidos como helenistas. É bom lembrar que estes não só falavam como eram bem influenciados pela cultura e pelos costumes gregos (helênicos).
O grego utilizado pelos escritores do NT era o koinê, que era comum em todo império romano e não o clássico que era utilizado pelos filósofos e outros.
Origem e Formação do AT
Antes de iniciar qualquer tipo de comentário é necessário explicar o que significa a palavra testamento. Testamento deriva do latim testamentum que é a tradução do hebraico bêrith (~yrB) - aliança e do grego diathêkê (diaqhkh - última vontade e testamento) - aliança, pacto, concerto e isto se liga à idéia da aliança feita por Iavé com Abraão e seus descendentes.
A palavra testamento, então, é uma declaração autêntica, através da qual alguém dispõe de seus bens, distribuindo-os em benefício de outrem, para depois de sua morte.
Ao realizar no período relativo aos escritos do NT, a nova aliança, a expressão AT passou a se referir aos tempos anteriores ao de Cristo.
Há vários pontos de vista, ou melhor, várias teorias sobre a origem do AT. O maior problema é que não se tem acesso aos originais dos vários livros das Escrituras hebraicas, se é que podem ser chamados de originais, já que são cópias de cópias. As cópias que se têm acesso não chegam a mil anos da data em que foram compostas e as que são utilizadas são os mais antigos manuscritos hebraicos e aramaicos que se têm disponíveis.
O texto do AT foi transmitido ao longo dos séculos sob a forma de manuscritos. Durante este longo período, é lógico que muitos erros de transcrição foram cometidos. De acordo com as diversas tradições o texto foi objeto de muitas mudanças e acréscimos. Mas foi por volta do século 1º que surgiu a preocupação de conservar o texto numa forma única e pura, por isso existem tantas outras formas de texto.
O texto que se tornou oficial no fim do século 1º foi o Texto Massorético (TM), que é fruto do trabalho dos massoretas e dos seus antepassados. Os massoretas utilizaram o texto hebraico já em uso, antes do seu tempo. Entretanto o que passou a conter os sinais dos massoretas (sinais massoréticos) tornou-se o escolhido entre os outros.

Septuaginta - LXX
Ela surgiu pela necessidade dos hebreus da diáspora, que residiam no Egito, em ter as Escrituras Sagradas em língua compreensível, principalmente na Alexandria onde surgiu o judaísmo helenístico de feição grega.
A LXX é mais uma tradução do hebraico, de um texto hebraico que diverge às vezes do TM.
O nome LXX se refere aos 72 tradutores, conforme a tradição descrita na 'Carta de Aristéia', onde diz que foram escolhidos 70 ou 72 estudiosos, sendo 6 de cada uma das 12 tribos de Israel, que traduziram a Torá para o rei Ptolomeu II Filadelfo no século III a.C. É, também, nesta carta que o conjunto da Lei Judaica (Torá - HrwT) foi chamado pela primeira vez de Bíblia, hè bíblos (h bibloj
O Intertestamento
O período interbíblico é um período muito importante e deve ser estudado com muita atenção. Apesar de ser pouco conhecido e poucas pessoas falarem a seu respeito, principalmente nas igrejas, ele tem um enorme conteúdo para entendermos melhor a Bíblia.
A história do AT se encerrou com o cativeiro babilônico do reino do Sul (Judá) com o regresso à Palestina, por parte dos exilados, quando imperava a hegemonia Persa, por volta dos séculos VI e V a.C. e com o cativeiro imposto pela Assíria sobre o reino do Norte (Israel). Os 4 séculos entre o final da história do AT e os primórdios do NT compreendem o período intertestamentário, mais conhecido como os "400 anos de silêncio".
Foi durante este período que Alexandre o Grande (Magno), se tornou o senhor do Antigo Oriente Médio, ao realizar sucessivas e vitoriosas batalhas contra os persas (Grânico 334, Issus 333 e Arbela 331 a.C.). A cultura grega, mais conhecida como helênica, já vinha se propagando há tempos por causa do comércio e da colonização dos gregos. Porém, mediante as conquistas de Alexandre, o seu crescimento foi maior do que antes e com isso o idioma grego tornou-se a língua franca, utilizada no comércio e na diplomacia. Pode-se ver que na época do NT o grego era falado nas ruas de Roma, onde o proletariado falava o latim, porém a grande massa de escravos e libertos já falava o grego.
Apesar deste breve resumo dar uma certa orientação de como era a vida naquela época, é necessário estudarmos mais a fundo cada período, tanto antes como depois de Alexandre, para entendermos a história.

O Período Grego (331-167 a.C.)
Alexandre o Grande
Filipe II, rei da Macedônia, uniu e organizou os macedônios num estado militar e seu exército era organizado por robustos camponeses e pastores. Esta união entre a Macedônia e as cidades-estado gregas se realizou em 20 anos de reinado e em 337 a.C. já havia concluído uma aliança, tendo em vista a conquista da Ásia.
Em 331 a.C., quando Jadua era o sumo sacerdote, Filipe II da Macedônia, foi assassinado e Alexandre, que era seu filho e tinha 20 anos, o sucedeu. Ele herdou de seu pai a agressividade e o gênio militar, e acrescentava isto à sua cultura grega, pois tinha sido educado com a Ilíada de Homero e sob a tutela de Aristóteles.
Alexandre transformou o mundo, politicamente, em menos de uma década. Ele é o chifre notável na visão do bode que Daniel teve, conforme Daniel 8.1-7.
Em 334 a.C., com apenas 35.000 homens, derrotou os três generais de Dario II, em Grânico. Esta batalha tem uma história muito interessante: conta-se que ocorreu após Alexandre ter passado uma noite acordado onde teve uma visão em que um ancião o aconselhava a continuar a sua luta contra os persas.
Apenas no ano 333 a.C., após derrotar o grande exército Persa, pela segunda vez em Issus, obteve o domínio sobre toda a Ásia Menor. Depois disto Alexandre passou a sonhar em conquistar o mundo da época. Voltou para o Sul em direção ao Egito onde fundou a cidade de Alexandria. Depois foi para o Leste e ocupou a Babilônia e a Pérsia, passando a ter no seu poder, além destas, o Egito e a Síria.
Quando Alexandre se encontrou com o sumo sacerdote Jadua, disse que era o ancião do seu sonho, por isso os judeus foram tratados com respeito e tiveram muitas vantagens. Entre elas o direito de cidadania plena. Conta-se que ele ofereceu sacrifício a Iavé e ouviu a profecia de Daniel referente à queda do império Persa. A política de Alexandre era fazer dos povos que conquistava seus amigos.
Ele organizou o seu império em satrapias (cada uma das províncias em que estava dividido o antigo império persa) e cada uma destas era uma colônia de gregos, que geralmente era constituída por seus soldados. Através destas colônias passou a conhecer novos territórios. Ele é lembrado pela sua condição de estadista.
Através da cultura grega várias barreiras foram quebradas: raciais, sociais e nacionais. A miscigenação das raças estimulou um espírito cosmopolitano, um sincretismo religioso e um interesse no indivíduo. Através do grego o mundo foi capacitado para a comunicação, pois foram iniciados 3000 persas na língua grega.
Apesar de influenciar as civilizações conquistadas, também foi influenciado pela luxúria e folia da Babilônia e de outras, as quais o deixaram arbitrário e desconfiado, por isso a sua resistência física enfraqueceu e começou a pegar febres, vindo morrer aos 32 anos aproximadamente.
Após a morte de Alexandre o seu império foi dividido entre os seus generais: Laomedon, Síria; Ptolomeu Lagus (Soter), Egito e Síria Meridional; Selêuco, Babilônia, Síria Setentrional, Ásia Menor e Frígia; Lisímaco, Trácia e parte ocidental da Ásia Menor; Cassandro, Grécia e Macedônia; já que não deixou herdeiros capazes para substituí-lo. O reino de Lisímaco durou pouco e foi incorporado ao território dos selêucidas. Três anos após a morte de Alexandre, Ptolomeu e Selêuco derrotaram Laomedon e dividiram o seu território e a Palestina ficou com Ptolomeu, a princípio, já que ficava no meio da briga entre os dois.


O Período Egípcio (321-198 a.C.)
Os Ptolomeus
Foi uma das épocas mais longas do período intertestamentário. Depois de uma severa luta, em que a Palestina, que ficava situada entre Síria e Egito juntamente com outra parte da Síria, ficou sob o domínio dos Ptolomeus e Roma anexou o Egito que foi o seu celeiro.
Por causa da sua posição geográfica, a Palestina sempre era favorecida pelos dois reinos, pois ambos fizeram de tudo para agradá-la.
O império ptolomaico tinha como capital Alexandria e nesta havia uma grande colônia de judeus.
O primeiro rei da linha ptolomaica foi Ptolomeu Soter. Ele capturou os judeus num sábado pois sabia que eles se recusavam a fazer qualquer tipo de esforço que pudesse profaná-lo e que eram leais a Laomedon. Por isso, a princípio, tratou-os com dureza mas com o tempo tornou-se amigável.
O seu sucessor foi Ptolomeu Filadelfo, o qual teve o reinado destacado. Fundou a famosa biblioteca Alexandrina e conseqüentemente fez a tradução de todos os livros existentes para o grego, inclusive o mais importante para nós, as Escrituras, isto é, a LXX. Esta biblioteca conservou os principais tesouros literários da antigüidade. A cidade de Alexandria cresceu em importância e tornou-se num notável empório comercial e cultural.
Durante os três primeiros reinados ptolomaicos, os judeus cresceram em número e riqueza, desenvolveram o seu comércio que prosperou com a queda de Tiro, mas depois passou por grandes problemas com os demais reis.
O Período Sírio (198-167 a.C.)
Os Selêucidas
O império selêucida estava concentrado na Síria e tinha a Antioquia como capital. Alguns eram chamados de selêucos e outros de antíocos. Foi nesta época que a Palestina se dividiu nas cinco províncias que constam no NT: Judéia, Samaria, Galiléia, Peréia e Tracônites.
À medida que os povos da Ásia Menor firmavam a sua independência e fundavam seus reinos, o domínio selêucida diminuía. Entretanto, na Síria, seu domínio era forte e sua influência muito poderosa nos negócios políticos da Palestina. Para conquistar a Palestina os selêucidas fizeram várias tentativas, entre elas, alianças matrimoniais e invasões, porém fracassaram até que Antíoco III o Grande, derrotou o Egito em 198 a.C., e em dois anos conseguiu o domínio da Palestina. Com isto os judeus se dividiram em dois grupos: um a favor do Egito (casa de Onias) e outro a favor da Síria (casa de Tobias).
Em 175 a.C. Antíoco IV Epifânio assumiu o reinado, após passar 12 anos como prisioneiro político de Roma. Trouxe consigo a cultura grega e o legalismo romano e, assim que chegou, estabeleceu o politeísmo grego como religião estatal.
Os judeus foram simpáticos à helenização por causa do sacerdócio corrupto que existia. Foi assim que Antíoco Epifânio tirou Onias III do sacerdócio e colocou Josão, seu irmão, no lugar. Josão pediu a cidadania antioquense para os judeus e como conseqüência pagaria largas somas para o tesouro real e introduziria os costumes gregos em Jerusalém.
Nesta época construíram um ginásio em Jerusalém muito perto do Templo, o qual tinha uma pista adjacente, onde os rapazes judeus se exercitavam despidos à moda grega e os sacerdotes deixavam o culto para assistirem aos jogos. Josão participou dos jogos em honra ao Deus sírio Melcarte, enviou dádivas e oferendas e estas ajudaram na construção da armada Síria.
Tudo isto fazia parte do processo de helenização, o qual também contava com a freqüência aos teatros gregos, adoções de vestes ao estilo grego, cirurgia que visava a remoção das marcas da circuncisão e a mudança dos nomes hebreus para o grego (veja o filme Judá Ben-Hur)
Por ordem de Antíoco, quando invadia o Egito, Josão perdeu o cargo para Menelau. Josão ouviu que Antíoco morrera e por isso voltou da Transjordânia, onde se refugiara e tomou o cargo de sumo sacerdote novamente. Entretanto Antíoco foi obrigado a retirar-se, porque não conseguiu uma aliança com os romanos. Voltou para Jerusalém, devolveu o cargo a Menelau, matou muitos à espada, vendeu muitos judeus como escravos, destruiu as muralhas, roubou o Templo e o transformou numa casa de culto a Zeus Olímpico, colocou uma imagem dele no altar e sacrificou uma porca, profanando-o. O mesmo aconteceu com o templo de Samaria, o qual foi dedicado ao Deus Júpiter Xênio.
Vários altares pagãos foram erigidos em toda Palestina e tornou-se obrigatório a realização de festivais pagãos. O judaísmo, o sábado, a procissão, ter ou ler a Torá, tornaram-se proibidos e quem transgredisse a lei era condenado à morte.
Mais tarde, por volta de 168 a.C., enviou Apolônio, seu general, com um exército de 122.000 homens para coletar tributos, tornar ilegal o judaísmo e estabelecer o paganismo à força, como uma forma de consolidar o seu império e refazer o seu tesouro. Destruiu Jerusalém mais uma vez e assassinou a muitos.
Jerusalém passou a ter cultos ao Deus do vinho, Baco, sacrifícios de animais no altar do Templo condenados por Moisés e a prostituição passou a ser realizada dentro do Templo de Jerusalém. Isto ficou sendo tolerado até que os Macabeus se revoltaram através do seu sumo sacerdote Judas Matatias.
O Período Hasmoneu (167-37 a.C.)
Os Macabeus
Quando um agente do rei foi à cidade de Modin obrigar o povo a oferecer sacrifícios pagãos, procurou Matatias que era um velho sacerdote da aldeia e ofereceu-lhe uma recompensa para que fosse o primeiro a obedecer as ordens. Sua intenção era fazer com que o povo visse Matatias, o velho sacerdote e o mais respeitado habitante da aldeia, cumprindo as ordens do rei e imitá-lo. Entretanto Matatias não aceitou e protestou. Um judeu se aproximou do altar para oferecer o sacrifício e Matatias o matou junto ao altar. Aproveitando o ensejo, matou o agente do rei e demoliu o altar declarando que era profanação à Lei de Deus.
Matatias e seus cinco filhos fugiram para o deserto onde outros aderiram à causa. Várias guerras surgiram, Matatias morreu pouco depois e foi sepultado em Modin.
Seu filho, Judas Macabeu (TbQm), nome derivado de martelo ou malho deu continuidade às guerras. Apesar de perderem mais uma batalha, venceram os sírios três vezes. Numa delas, contra o general Lísias, expulsaram os intrusos de Jerusalém, iniciaram a purificação do Templo de Jerusalém e a execução de um novo altar. Fez um culto de dedicação do Templo e estabeleceu uma festa (hK;nux - dedicação, inauguração) para comemorar a vitória. Um fato curioso é que esta festa se deu pelo dia 25 de dezembro, conforme podemos ver em I Macabeus 4.36-61.
Judas completou a sua vitória conquistando as terras que ficavam a leste do Jordão e conservou a Palestina na sua independência, mas morreu em combate, foi sucedido pelo seu irmão Jônatas e, posteriormente, por Simão.
Houve guerra até o ano 143 a.C., quando Jônatas foi reconhecido por Demétrio II, pretendente à coroa Síria, como aliado e por isso recebeu a liberdade política, a isenção de todos os impostos presentes e futuros. Foi ele quem conseguiu a independência da Judéia e o término das lutas dos Macabeus, acabando com a influência dos selêucidas na Palestina.
Jônatas tornou-se sumo sacerdote e uniu as autoridades, religiosa e política, na sua pessoa, dando início à linhagem dos Hasmoneus, que vem de Hasmon, tataravô dos Macabeus.
Em 139 a.C. acertou um tratado com Roma que reconhecia a independência do estado judaico e recomendava-o à amizade dos súditos e aliados de Roma. Com isto as condições econômicas melhoraram, a justiça passou a ser administrada por tribunais e a vida religiosa começou a se despertar.
Entre 142 e 137 a.C., a dinastia hasmoneana esteve repleta de contendas internas por causa da ambição pelo poder. Numa dessas contendas Jônatas foi traído, assassinado e foi sucedido por Simão.
Simão mandou nivelar a montanha próxima de Jerusalém na qual havia ficado uma guarnição Síria. Apesar de ser amado por todos foi assassinado juntamente com dois filhos seus, pelo seu genro que cobiçava o sumo sacerdócio.
Entretanto foi João Hircano, seu outro filho, que assumiu o sacerdócio. Este foi tão notável que muitos atribuem a dinastia hasmoneana começando com ele. Reinou durante 29 anos e fez um próspero reinado, morrendo em 106 a.C. Após a sua morte a dinastia hasmoneana viveu sob muitas contendas partidárias e a independência judaica foi ameaçada até a intervenção de Roma. Por causa dessas contendas surgiram os grupos: fariseus, essênios, saduceus e outros.
João Hircano teve um filho chamado de Aristóbulo que o sucedeu. Este aprisionou três de seus irmãos, matou o quarto e além de prender a sua mãe, a deixou morrer de fome. Deixou como herdeiro um filho com o seu nome e outro chamado Hircano. Nesta época aparece Herodes, por intermédio de seu pai Antípater, juntamente com o domínio romano do general Pompeu. De agora em diante os relatos estão relacionados à época em que Cristo nasceu e dentro do contexto do NT.

CÂNON AT
O termo cânon (kanwn) ou qoneh (hnq) vem da língua semítica, ou sumérica (assírio-babilônica) e significa vara de medir ou régua, especialmente usada para manter algo em linha reta. Entretanto no grego, dá a idéia de vara, nível, esquadro, isto é, a meta a ser atingida, a medida infalível, chegando dessa forma ao criterion (krithrion). No hebraico a raiz da palavra é junco ou cana, isto é, uma vara. Estes eram utilizados como instrumentos para medir.
Em cronologia significava uma tabela de datas e em literatura, uma lista de obras que podiam ser atribuídas a um certo autor. Os cânones literários são importantes porque só as obras genuínas de um autor podem revelar o seu pensamento.
Os clássicos gregos usavam o cânon como sentido figurado de regra, norma ou padrão. Aristóteles chama o homem de bom cânon ou metron (metron) da verdade.
O termo cânon aparece no NT apenas em II Coríntios 10.13,15 e em Gálatas 6.16. Este conceito de regra ou padrão que a palavra cânon tem, dá um caráter de norma e era considerado, até mesmo, em outras escrituras.
Com o passar dos tempos o termo cânon passou a designar o corpo de escritos que dá autoridade normativa para a fé cristã, tendo em contraste os escritos que não o são, mesmo sendo contemporâneos. Somente no século IV é que o conceito cânon foi aplicado à Bíblia pelo Concílio de Laodicéia (360) e por Atanásio referindo-se aos livros que a Igreja reconhecia serem, oficialmente, o padrão de conduta e fé.
Sendo assim, cânon são os livros aceitos pela igreja primitiva como Escrituras divinamente inspiradas. O termo cânon deixou, então, de ser a vara de medir para se tornar o padrão. Se cânon significa isto, canonização significa ser oficialmente reconhecido como guia ou regra autorizada em matéria de fé e prática.
A Canonização do AT
O aparecimento do cânon constitui, antes, um longo processo histórico no qual se pode distinguir três estágios: a tradição oral que é resultante da revelação como seu pressuposto, o trabalho de compilação dos escritos sagrados como uma espécie de pré-história e a formação propriamente dita do cânon.
A formação do cânon do AT foi o resultado de uma decisão dogmática que fixou o conjunto das Sagradas Escrituras, determinando-lhe o número e os limites, razão pela qual se postulava um período definido da revelação (de Moisés até Artaxerxes I). As razões para isto estão ligadas à situação histórica. Em certa época surgiu um movimento apocalíptico com a pretensão de possuir o dom da inspiração e misturava, de novo, idéias de crenças estranhas com as próprias, fazendo assim, reviver novamente o perigo do sincretismo religioso.
Nas Escrituras Hebraicas há 39 livros que os judeus aceitaram como canônicos. Estes são os mesmos que foram aceitos pela Igreja Apostólica e Protestante desde os dias da Reforma. A estes a Igreja Romana adicionou 14 outros livros, ou porções de livros que são os apócrifos e os considera como tendo igual autoridade aos demais.

O Cânon Hebraico
A divisão que consta nas escrituras hebraicas encontra-se em três partes:
- Lei (Pentateuco): Gênesis (no princípio - tyvarB); Êxodo (estes são os nomes - tAmv hLaw); Levítico (e chamou - arqYw); Números (no deserto - rBdyw); Deuteronômio (estas são as palavras - ~yrbDh hLa); sempre designados pelas primeiras palavras dos textos.
- Profetas (Nebiûm - ~ayBn):
1) anteriores: Josué; Juízes; Samuel; Reis; em ambos os 1ºs e 2ºs estão reunidos num só.
2) posteriores: Isaías; Jeremias; Ezequiel; os doze profetas, na ordem retomada pela Vulgata: Oséias; Joel; Amós; Obadias; Jonas; Miquéias; Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias.
- Escritos (Kethûbbîm - ~ybWtK, ou Hagiógrafos): Salmos; Jó; Provérbios; Rute; Cantares; Eclesiastes (Coélet); Lamentações; Ester; (estes cinco últimos são conhecidos como cinco rolos ou Megillath - tLgm) Daniel; Edras-Neemias; Crônicas.
Os Megillath ou cinco rolos, eram destinados a serem lidos nas principais festas do ano. Desta forma: Cantares para a Festa da Páscoa; Rute para a Festa das Semanas ou da Colheita; Lamentações para a Festa da Celebração do Jejum em memória da Destruição de Jerusalém; Eclesiastespara a Festa dos Tabernáculos (cabana de folhagem); Ester para a Festa dos Purim.

O Novo Testamento e o Período Romano (a partir de 63 a.C.)
O NT é o livro onde está registrado o estabelecimento e o caráter das novas relações de Deus com os homens por intermédio de Cristo. Deus põe as condições e cabe ao homem aceitá-las ou não, mas não pode mudá-las e quando as aceita fica obrigado a cumprir as exigências impostas.
Esta é a idéia da palavra que foi colocada para designar o NT. Antes de iniciar o estudo referente à sua origem, formação e transmissão, você vai conhecer um pouco mais do seu contexto histórico, pois este tem muito a nos ensinar.
Fundada em 753 a.C., Roma era uma cidade que tinha a união de pequenas aldeias vizinhas e era governada por um rei. No início do século V a.C. alcançou um grau sólido de organização política sob o governo de forma republicano.
A Pax Romana foi fruto do período de expansão territorial de Roma e seu domínio. Em 5 séculos Roma transformou-se de uma cidade para ser o Império do Mundo.
Em 146 a.C., após 2 séculos de guerra com a cidade rival de Cartago, na África do Norte, Roma saiu vitoriosa. O domínio romano expandiu-se com as conquistas realizadas na extremidade oriental da bacia do Mediterrâneo, sob os comandos dos generais Pompeu e Gálio, por ordem do imperador Júlio César.
Após o assassinato de Júlio César, Otávio (mais conhecido como Augusto) derrotou, em Ácio (Grécia 31 a.C.), as forças de Antônio e Cleópatra e tornou-se o imperador de Roma.
A forma de governo de Augusto era provincial e tinha como objetivo impedir que os procônsules administrassem territórios estrangeiros, visando ao seu engrandecimento pessoal. Os procônsules eram nomeados pelo senado romano para governar as províncias senatoriais por um ano e prestavam contas ao senado. As questões financeiras eram de responsabilidade dos delegados, que eram nomeados pelo imperador e trabalhavam paralelamente com os procônsules. Também havia os procuradores que governavam as províncias imperiais, estes eram nomeados pelo imperador a quem prestavam contas e exerciam a autoridade civil e militar por intermédio de exércitos permanentes.
O NT está repleto destes oficiais de Roma e o estudo vai abordar cada um deles para melhor compreensão.
Imperadores Romanos
Otávio ou Augusto (27 a.C. - 14 d.C.)
Tibério (14 - 37 d.C.)
Caio Calígula (37 - 41 d.C.)
Cláudio (41 - 54 d.C.)
Nero (54 - 68 d.C.)
Galba, Otão e Vitélio (68 - 69 d.C.)
Vespasiano (69 - 79 d.C.)
Tito (79 - 81 d.C.)
Domiciano (81 - 96 d.C.)
Nerva e Trajano (96 - 117 d.C.)
Reis ou Governadores
Os romanos permitiam a existência de governantes nativos, vassalos de Roma, em alguns lugares e entre eles a Palestina. Eram mais conhecidas como províncias romanas. A Bíblia registra esses reis, governadores porque fazem parte da história na época de Jesus.

Herodes, o Grande (37 - 4 a.C.)
Herodes, o Grande foi um desses reis, governadores. Ele subiu ao trono, ofício real, aos 22 anos através da aprovação do senado, porque o seu pai Antípater o havia lançado na carreira política e militar. Foi forçado a obter o poder da Palestina mediante a força das armas e lá governou.
Herodes era descendente dos Edumeus, que são os descendentes de Edom - ~wda - (que significa vermelho - Gn 36.9) ou Esaú, e da família dos Hasmoneus. Não era bem visto pelos judeus por causa disto e também por causa dos cultos pagãos, das ofertas, da utilização do sacerdócio para a política e do relaxamento na sua vida pessoal pois teve 10 esposas.
Era astuto, cruel e invejoso. Assassinou duas de suas esposas e três filhos seus. De acordo com a narrativa encontrada no evangelho de Mateus 2.16 ordenou a matança das crianças em Belém.
Herodes embelezou o Templo de Jerusalém, decorando-o com mármore branco, ouro e pedras preciosas.
Alexandra, uma de suas esposas, induziu Herodes a nomear o seu filho Aristóbulo III como sumo sacerdote no lugar de Hananiel, mas Herodes o matou da mesma forma que fez com sua esposa Mariana. Esta foi a única mulher que ele amou, mas pela segunda vez que foi a uma batalha deixou uma ordem que se ele morresse deveriam matá-la também. Ao saber disto ela começou a acusá-lo de assassino em vários casos, inclusive o de Hircano, seu bisavô. Então influenciado por sua mãe e irmã, Herodes a matou.
Herodes foi amigo de Cleópatra e Antônio até o ano de 29 a.C., quando viu que não poderiam mais ser aliados e ele ficar contra Roma. Assim estabeleceu a paz com Augusto e continuou sendo o rei da Judéia.
Ele acabou falecendo de hidropisia (acumulação anormal de líquido seroso em tecidos ou em cavidade do corpo) e câncer nos intestinos em 4 a.C.
Foi sucedido por seus filhos. Augusto, imperador de Roma, nomeou Arquelau como etnarca, governador de província no Baixo-Império (Judéia, Samaria e Iduméia); Antipas como tetrarca, governador de uma das quatro partes de uma província (Galiléia e Peréia); Filipe como tetrarca (Betânia, Tracônites e Aurânites).
Arquelau (4 a.C. - 6 d.C.)
Tornou-se o etnarca da Judéia, Samaria e Iduméia. Desposou Gláfira, filha de Arquelau, rei da Capadócia, que tinha sido casada duas vezes. Ao casar com ela caiu no desfavor do povo.
Conforme o seu pai, deu grande desenvolvimento às obras públicas e também era muito vingativo.
Arquelau proferiu alguns desmandos, que provocaram várias queixas por parte dos judeus e dos samaritanos e que, conseqüentemente, provocaram a sua remoção do ofício e o seu banimento por ordem do mesmo imperador que o nomeou, Augusto. Um desses desmandos está registrado em Mateus 2.21-23, onde fala que José e Maria, ao regressarem do Egito, tiveram de estabelecer-se em Nazaré da Galiléia, ao invés de fazê-lo em Belém, da Judéia.
Filipe (4 a.C. - 34 d.C.)
Tornou-se o tetrarca da Ituréia, Tracônites, Gaulânitis, Aurânites e Betânia. Era justo, distinto para com o povo e um grande edificador conforme o seu pai. Edificou Betsaida Júlia, a nordeste do Lago da Galiléia e junto à nascente do Jordão foi edificada a Cesaréia de Filipe, uma homenagem feita a ele e ao imperador. Sua população, em grande parte, era síria e grega, tendo poucos judeus. É citado em Lucas 3.1.
Herodes Antipas (4 a.C.- 39 d.C.)
Tornou-se o tetrarca da Galiléia e Peréia e é o mais citado de todos nos evangelhos. O seu sistema de governo era grego.
Herodes Antipas era judeu e construiu Tiberíades, a nova capital, às margens do Lago da Galiléia. Tiberíades foi edificada no local onde era um cemitério e por isso os judeus não queriam habitar nela. Entretanto, Herodes Antipas colonizou-a à força.
Ele foi contra Pilatos, quando este levantou uma égide de culto pagão em Jerusalém e participou da festa da páscoa (Lc 23.7).
Conheceu Herodias esposa de Herodes Filipe I, seu meio-irmão, que não era o tetrarca, na própria casa dele e casou-se com ela. Mais tarde, depois de já estarem separados, Herodias juntamente com seu irmão Agripa I, conseguiram prender Antipas em Lião, na Gália, onde ficou até a sua morte.
Herodes Antipas mandou matar João Batista (Mt 14.1-12), Jesus o chamou de raposa (Lc 13.32) e julgou a Jesus (Lc 23.7-12).
Herodes Agripa I (37 - 44 d.C.)
Era neto de Herodes, o Grande, irmão de Herodias e filho de Aristóbulo. Foi educado em Roma e retornou à Palestina em 23 d.C., sendo nomeado por Antipas superintendente dos mercados de Tiberíades. Mas teve um desentendimento com Antipas e com o governador romano de Antioquia. Por isso retornou à Itália e tornou-se o tutor do neto de Tibéria e foi amigo íntimo de Calígula. Ao se tornar imperador, Calígula o nomeou para ocupar o cargo de Antipas.
Por ter boa influência com Calígula e com os judeus, evitou que fosse erigida uma estátua do imperador no Templo de Jerusalém. Após a morte de Calígula apoiou Cláudio, o qual o deixou no mesmo cargo e ainda acrescentou à sua jurisdição Judéia e Samaria. Desta forma, Agripa I ficou com o território igual ao de Herodes, o Grande.
Ao regressar à Palestina onde passou a viver, começou a adorar no Templo. Seguiu estritamente as leis judaicas e impediu a introdução de cerimônias e de imagens pagãs dentro das sinagogas. Por se dedicar ao judaísmo passou a perseguir os cristãos. Ele prendeu e matou Tiago, filho de Zebedeu e também quem encarcerou a Pedro (At 12.1-5).
Herodes Agripa I teve três filhos e uma filha, Drusila, a qual casou com Félix procurador romano da Judéia.
Herodes Agripa II (50 - 100 d.C.)
Era bisneto de Herodes, o Grande. Após a morte de seu tio Herodes de Cálcia, foi eleito rei, em 50 d.C. e nomeou o sumo sacerdote do Templo.
Em 53 d.C. deixou Cálcia e recebeu as quatro tetrarquias de Filipe e Lisânias. Em 54 d.C., após a morte de Cláudio, Nero acrescentou-lhes algumas partes da Galiléia e Peréia.
Quando Festo tornou-se o governador da Galiléia, Agripa II ocupou um novo cargo e também serviu de conselheiro religioso no caso de Paulo, conforme consta no relato do livro dos atos dos apóstolos (25.13-26.32) e ainda foi leal a Vespasiano e a Tito.
Judaismo
No 1º século do império romano, o judaísmo era nacional pois tinha origem no povo judaico, porém não se restringia a ele porque era composto de vários outros.
Apesar de existirem povos que adoravam a um Deus, o povo judaico só adorava e só aceitava um único Deus, Iavé. As outras religiões também tinham templos e cultos de sacrifícios, mas só o judaísmo tinha um Templo sem imagens e com tantos fiéis há tanto tempo. A ética judaica era voltada para o seu Deus a quem cultuava. O judaísmo se fundamentava na revelação de Deus: Escrituras Sagradas, profetas e hagiógrafos.
O cristianismo é uma raiz do judaísmo, pode-se dizer que é um filho. Dos 27 livros que o NT contém, a maior parte da teologia apresentada é judaica, isto é, tem base no AT. Como Jesus era judeu tudo o que ocorreu no ambiente do NT era de tradição judaica.
O cristianismo e o judaísmo são separados porque este não aceitou a Jesus como o messias e, conseqüentemente, não aceitou os seus seguidores.
O judaísmo é produto do exílio, surgiu por volta do século 6 a.C. com os cativos do reino do Sul, na Babilônia. Durante um bom tempo o povo de Israel vinha sendo influenciado pela cultura de outros povos, inclusive na adoração a outros deuses.
Ao entrar no cativeiro o povo se deparou com outra realidade e com um grande problema: só poderiam adorar a Iavé e seguir fielmente às suas leis. Se não fizessem isto seriam envolvidos com as religiões dos povos que os dominava. O Templo não existia mais, nem o culto, como conseqüência o livro da lei sumiu juntamente com o sacerdócio. Entretanto algo interessante aconteceu, o Deus Iavé, que era o Deus do Monte (Sinai) havia descido e estava com eles no cativeiro. Agora havia mais um motivo para adorá-lo, pois ele se mostrava fiel e que estava sempre com o seu povo. Por isso todos passaram a adorar ao Deus Iavé.
Então surgiram as mudanças e adaptações para melhor. Já que não há mais cultos, o estudo da Torá passou a ser prioridade e a ter muito valor. Como também não havia mais sacerdócio e por causa do cativeiro o povo falava uma nova língua, passou a existir a interpretação para uma melhor compreensão do texto e também surgiram os escribas, que eram homens dedicados ao estudo da Torá e estudavam-na com muita intensidade (Ed 7.6).
Com a reconstrução do Templo de Jerusalém e com poucas pessoas podendo participar por várias causas, entre elas a distância e a questão econômica, surgiu a sinagoga e esta contribuiu mais ainda para unir o povo e afirmar o judaísmo.
O ponto central da teologia do judaísmo era crença na unidade e na transcendência de Iavé, que para os judeus era o único existente.
Os rabinos, da sinagoga, davam ênfase à paternidade de Iavé (Is 63.16) e o Pai Nosso (Mt 6.9-13) mostra a importância disto. A teologia judaica dizia que o homem era criação de Deus, dotado da capacidade de escolher a obediência e a desobediência à lei revelada e assim, escolher as conseqüências de vida e de morte, conforme Deuteronômio 30.11-20.
O principal objetivo do povo judeu era cumprir os mandamentos de Deus e praticar as leis, as normas impostas para o povo. Entre elas: a circuncisão, a guarda do Sábado, as várias festas anuais, o culto e a sinagoga.
Para os judeus o pecado era desobedecer a qualquer um dos preceitos contidos na lei revelada por Deus, a Torá, sem exceção. Qualquer quebra acarretava na exclusão do povo escolhido. Havia a idéia de castigo e galardão para o povo. A nação quando obedecia e adorava a Iavé prosperava, mas quando se tornava idólatra e negligente à lei, sofria as conseqüências: perdas políticas e econômicas.
A partir do cativeiro esta idéia começou a mudar, porque observaram que muitos prosperavam e sofriam os danos, independente de como o povo agia. Então a responsabilidade passou a ser individual e não da nação. Começou também a surgir à idéia de vida futura, Sheol ( lwav) - túmulo, inferno, cova - e de um messias com caráter apocalíptico.
O ano sagrado do judaísmo tinha doze meses lunares com um intercalar (lunar com solar); o ano civil começava com o sétimo mês (outubro), o religioso com o primeiro mês (abril), no qual ocorria a Páscoa e esta era a grande festa do ciclo judaico.
O calendário era assim:

- Nisan (março/abril):
dia 14 - Páscoa: esta festa comemorava o êxodo do Egito;
dia 15 - Pães Asmos: a festa dos pães asmos marcava o início das primícias (colheita do trigo);
dia 21 - Final da Páscoa;
- Iyar (abril/maio):
dia 06 - Festa de Pentecostes ou das Semanas: a festa de Pentecostes marcava o fim da colheita de trigo;
- Sivan (maio/junho)
- Tammuz (junho/julho)
- Ab (julho/agosto)
- Ellul (agosto/setembro)
- Tishri (setembro/outubro):
dias 1,2 - Festa das Trombetas, Rosh Hashanah: a festa das trombetas marcava o início do ano civil e o fim das colheitas da uva e azeitona;
dia 10 - Dia da Expiação, Yom Kippur: era o dia do arrependimento nacional, havia jejum e expiação, por ser um dia triste não era chamado de festa;
dias 15 a 21 - Festa dos Tabernáculos, da Colheita: a festa do tabernáculo o viver em tendas a caminho de Canaã após o êxodo do Egito, por isso durante esta festa o povo vivia em cabanas de ramos;
- Marshevan (outubro/novembro )
- Kisleu (novembro/dezembro):
dia 25 - Festa das Luzes, da dedicação Hannukkah: a festa das luzes comemorava a re-dedicação do Templo por Judas Macabeu, com luzes brilhantes nos recintos do Templo e nos lares judeus;
- Tebeth (dezembro/janeiro)
- Shebeth (janeiro/fevereiro)
- Adar (fevereiro/março):
dia 14 - Festa de Purim: a festa de purim comemorava o livramento do povo de Israel ao tempo de Ester, tendo a leitura pública do seu livro nas sinagogas;
As seis primeiras foram prescritas na lei de Moisés, na Torá e as duas últimas tiveram origem depois do exílio.
Para continuar entendendo sobre o judaísmo é necessário conhecer um pouco sobre o Templo, a sinagoga, o sinédrio e os partidos que surgiram.
O Templo
Existiram três tipos de Templos onde os judeus adoravam a Iavé. Todos os três foram erigidos em épocas diferentes. O segundo foi construído porque o primeiro havia sido destruído e o último foi por ordem e luxúria de Herodes o Grande.
O primeiro é o Templo de Salomão, que realizou do desejo de seu pai o rei Davi, em estabelecer um lugar central para adoração a Iavé e desta forma proteger mais a Arca da Aliança.
O Templo de Salomão teve como modelo o Tabernáculo, porém com as dimensões dobradas. A mobília e a ornamentação eram mais magnificentes. De acordo com as medidas dadas no Conciso Dicionário Bíblico o Templo tinha 60 côvados de comprimento (27m), 20 de largura (9m) e 30 de altura (6m). Era feito de pedras preparadas e coberto com pranchões e tábuas de cedro. O soalho e as paredes eram de cedro. O Santo dos Santos, o Lugar Santíssimo ou Oráculo tinha a forma de um cubo com 20 côvados (9m) de cada lado, onde ficavam a Arca da Aliança e os dois querubins, sendo que cada um tinha 10 côvados de altura (4,5m) e suas asas eram de 5 côvados (2,25m). Ainda havia o véu que dividia o Lugar Santíssimo do Lugar Santo ou Santuário. Este tinha 40 côvados de comprimento (1,80m), 20 de largura (9m) e 30 de altura (6m). Nas paredes perto do teto estavam as janelas. Nele encontrava-se o altar de incenso, 10 castiçais, 10 mesas e tinha suas portas de cipreste. Nas paredes laterais e nas dos fundos foram feitos três andares de câmaras para os oficiais do Templo que também serviam para depósitos. À frente estava o pórtico com 20 côvados de comprimento (9m) e 10 de largura (4,5m) onde ficavam as duas colunas Jaquim e Boaz, tendo cada uma 18 côvados de altura (8,1m). Ainda havia o pátio onde ficava o altar de bronze, o mar de bronze e os 12 bois sentados em grupos de 3 e as 10 pias de bronze. Este foi incendiado por Nebuzaradan, general de Nabucodonozor em torno de 587 a.C.
O segundo foi o Templo de Zorobabel, erigido pelos judeus que retornaram do cativeiro e tinha proporções diferentes e menos luxuosas. Com o retorno do primeiro grupo as obras foram iniciadas, enquanto alguns, que ficaram na Babilônia, davam o devido apoio econômico. Entretanto os samaritanos conseguiram impedir, por um tempo, as obras e estas só recomeçaram aproximadamente em 520 a.C.
O Templo de Zorobabel foi terminado e dedicado na época de Ageu, Zacarias e talvez Malaquias (516 a.C.). Ele teve alguns acréscimos nas áreas de reunião e ficou erigido até a época de Herodes o Grande. Isto ocorreu porque Herodes quis construir um mais luxuoso.
Então podemos considerar o Templo de Herodes como o terceiro. Em 19 a.C. iniciou-se a construção do pórtico, do Lugar Santo e do Santo dos Santos e estes foram terminados em um ano e meio, mas a estrutura inteira só foi terminada por volta de 64 d.C. e alguns afirmam que não foi todo reconstruído.
O Templo media 100 côvados de comprimento (45m) e 40 de altura (18m). Havia o Pátio dos Sacerdotes e um pátio grande, onde ficavam separados, de cada lado, os homens das mulheres. Fora destes recintos ficava o Pátio dos Gentios, onde havia os cambistas e negociantes. Dos três Templos erigidos, este foi o mais luxuoso.
A importância do Templo para os judeus era muito grande. O Templo era o principal centro de culto de Jerusalém e a maioria das festas era realizada nele. Jesus e os apóstolos ensinaram e pregaram nos seus átrios. Havia inscrições em grego e latim advertindo os gentios para não entrarem nos átrios mais interiores, caso adentrassem estavam sujeitos à morte.
Os judeus tinham autorização dos romanos para terem um corpo de polícia destinado a manter a ordem dentro dos recintos do Templo. O chefe principal do Templo era chamado de strategos (strathgoj) isto é, capitão, comandante do Templo (At 4.1; 5.24-26). À Noite o Templo era fechado e ficava sob a proteção de guardas para que não houvesse roubo.
De acordo com a lei mosaica os sacrifícios só poderiam ser oferecidos no Santuário Central, por isso era tão importante para os judeus e o judaísmo.
O Sinédrio
O termo sinedrion (sunedrion) entrou em uso após o final da Grande Sinagoga e significava concílio dos judeus (em Jerusalém).
Era o Senado da época ou executava a função da Suprema Corte dos Judeus, a qual impunha na vida, nacional e cívica, a obediência ao sistema mosaico da lei sagrada. Era o Conselho Supremo do Judaísmo e o Talmude o denomina como O Tribunal dos Saduceus. No NT é chamado de: Concílio, Principais Sacerdotes e Autoridades ou apenas Autoridades.
Consistia em 71 membros e entre eles havia: sacerdotes, fariseus, anciãos e escribas que se autodenominavam juízes e sobre todos a aristocracia sacerdotal mantinha preponderância.
A idéia do sinédrio surgiu baseada no relato de Números 11.16, onde consta que Moisés e mais 70 anciãos do povo julgavam o povo. O sinédrio existia desde o período grego e era convocado sob a presidência do Sumo Sacerdote. A princípio reunia-se na sala da Pedra Talhada, que era um compartimento do Templo, cujo acesso era pelo Pátio dos Sacerdotes e dos israelitas, mais tarde funcionou em vários outros locais.
Na verdade, era um tribunal local, em qualquer cidade ou colônia judaica, que servia para o julgamento de causas secundárias e isto ocorreu porque os romanos permitiram os judeus manusearem muitas questões religiosas e domésticas. As reuniões eram diárias, exceto aos Sábados e em outros dias santificados.
Era dever do sinédrio: a proclamação mensal da lua nova, a declaração dos anos bissextos, as decisões de crimes contra o Estado e as questões da lei judaica sobre as quais houvessem dúvidas.
O seu poder estava sob o apoio do governo romano, mas sob o domínio de Herodes o Grande e dos governadores romanos esteve sem força, porém controlava boa parte das questões locais que afetavam a vida diária. Entretanto na época de Jesus exerceu grande autoridade. Com o domínio total dos romanos perdeu o prestígio sobre a vida e a morte, mas em tumultos fazia valer a sua lei.
A Sinagoga
A sinagoga (sunagwgh) teve a sua origem no exílio da Babilônia. A grande dispersão do povo no cativeiro e as peregrinações nos anos posteriores tornou necessário haver outras formas de reunião. A idéia principal era fazer com que as pessoas se reunissem para o estudo da lei, mas para tal reunião era necessária a presença de 10 homens para formar a congregação. Ela passou a substituir o culto do Templo, já que a princípio o povo estava cativo e não havia mais Templo e mesmo depois de reconstruído muitos eram impedidos pela distância ou pela pobreza de participarem no Templo.
A instituição da sinagoga deu tão certo que mesmo após a reconstrução do Templo e também no 1º século d.C. em Jerusalém havia sinagogas. Ela desenvolveu uma vida religiosa que era a adaptação dos velhos ritos e observâncias do judaísmo às novas condições que o povo tinha de viver. Estas eram os princípios essenciais do velho culto prescrito na lei e pregado pelos profetas. Graças a ela o judaísmo cresceu e persistiu.
Os judeus fundaram sinagogas em cada cidade do império e em Jerusalém havia até sinagoga de estrangeiros. A Galiléia, na época dos Macabeus, estava cheia delas.
A sinagoga se tornou o novo centro de culto, era um centro social para os judeus se encontrarem e a própria palavra significa isto, reunidos juntos. Era a instituição de educação para conservar a lei diante do povo e para instruir as crianças na fé ancestral. Daí o início da educação no meio judeu.
O estudo da lei tomou o lugar do sacrifício, o rabi suplantou o sacerdote e a fé comunal passou a ser aplicada à vida individual. Em cada uma havia um chefe da sinagoga (Mc 5.22) que presidia os cultos, atuava como instrutor em caso de disputa (Lc 13.14) e era quem apresentava os visitantes (At 13.15). Havia o subalterno ou Hazzan, que era o zelador que ainda tinha como função anunciar à comunidade o início do Sábado na 6ª à tarde e o seu fim e, se por acaso faltasse um dos professores, era quem ensinava.
As sinagogas eram fortes edifícios de pedras. Cada uma tinha uma arca, onde ficava uma cópia do rolo da lei, um estrado com uma escrivaninha onde a escritura do dia era lida, havia luzes e bancos para congregação.
O culto era composto de oração, leitura e explicação da mesma para a vida, mas não continha o sacrifício. O culto iniciava com a recitação do credo judaico de Deuteronômio 6.4,5: "Ouve ó Israel, Iavé nosso Elohims, Iavé uno; e amarás Iavé, teu Elohims, com todo o teu coração, com todo o teu ser, com toda a tua intensidade".

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Esta era acompanhada de frases de louvor a Deus (Bekarot) que começavam com a palavra "Bendito". Após o Shema ([mv) vinha um ritual acompanhado posteriormente com uma oração individual e silenciosa por parte de um dos membros da congregação. Depois disto vinha a leitura da Escritura (os judeus palestinos liam o Pentateuco em cada três anos e os babilônicos num ano) e também os profetas, conforme Lucas 4.16-21. Esta leitura era feita de pé por todos da congregação, após havia a explicação da mensagem lida com todos assentados e o culto era encerrado com uma bênção pronunciada por algum membro sacerdotal da congregação. Caso não houvesse um, havia apenas uma oração.
Além de a sinagoga ser a casa de culto dos judeus, também servia de igreja, de tribunal e de escola. Como escola seus alunos recebiam lições de história e da religião dos hebreus, bem como das habilidades práticas. Entre tais, ler e escrever sobre os seus progenitores. Além disso aprendiam aritmética simples, tradições judaicas extra bíblicas, complexos rituais do judaísmo e aprendiam uma profissão.
Na sinagoga também eram impostos castigos, inclusive açoitamentos (Mt 5.22; 10.17; Mc 13.9; Lc 12.11; 21.12) e a excomunhão temporária ou permanente. As reuniões aconteciam aos Sábados, nas 2ª e 5ª horas, os cultos aos sábados eram na 3ª, 6ª e 9ª horas. As pessoas entravam curvando-se para a parede onde estava a arca com uma cópia do rolo das Escrituras.
Partidos Judaicos
No judaísmo havia os partidos judaicos que se destacavam muito e aparecem nos relatos dos evangelhos. Alguns eram políticos, outros religiosos e outros se tornaram um, porque estavam fora da crença dos demais. Eles são:
Os Fariseus (Farisaiwn)
Este nome deriva de Parash que significa separar. Tiveram origem pouco depois da revolta dos Macabeus. Eram os separatistas ou os puritanos do judaísmo que se separavam das más associações e procuravam prestar obediência completa a todos os preceitos da lei oral e escrita. Além disso separavam-se dos gentios e dos demais que não eram judeus.
Era a mais numerosa seita religiosa e a de maior influência. Sua maior parte pertencia à classe média leiga e formava a coluna mestra do judaísmo.
Para eles qualquer um que não praticasse o judaísmo era um pecador. Sua teologia era baseada no judaísmo e ensinava a ressurreição no fim dos tempos (At 23.8), depois os homens deviam ser punidos ou recompensados no além.
Quando eram questionados sobre algumas coisas, utilizavam o método alegórico de interpretação para fugir. Acreditavam em anjos, espíritos e na imortalidade da alma. Praticavam a oração, o jejum com seus rituais e entregavam o dízimo (Mt 23.23; Lc 11.42). Observavam muito a lei rabínica, mosaica e o Sábado (Mt 12.2). Cultivavam uma esperança messiânica através de uma libertação divina.
Apesar dos seus padrões morais e espirituais tenderem muito para a justiça própria e, conseqüentemente para a hipocrisia, eram elevados para a época.
Tornaram-se os mentores políticos de Israel e controlavam a sinagoga. Os judeus os admiravam como perfeitos modelos de virtude. Para os fariseus a Lei Oral suplantou a Escrita.
Os Zelotes (znlwthj)
Era um grupo sacerdotal que se inspirava no Templo e esperava um próximo fim escatológico. Achava que tudo que era ilegítimo no Templo era o ponto necessário para realizar o reino de Deus.
Tinha sua sede na Galiléia e seu nome significava zeloso, fervoroso ou aderente, dando a idéia de arder por alguma coisa. Pertencia à extrema esquerda dos fariseus e queria a todo custo a autonomia e a independência da nação.
Os zelotes representavam o partido nacionalista judeu (fanáticos) e defendiam a violência como meio de se libertarem do domínio romano. Às vezes eram confundidos com os sicários porque também andavam armados.
Recusavam a pagar taxas à Roma, consideravam a lealdade a César um pecado e foram iniciadores de diversas revoltas. Por isso são considerados os culpados pela destruição de Jerusalém em 70 d.C. Eram tão radicais que mais tarde se tornaram marginais sem lei.
Simão era Zelote (Mt 10.4; Lc 6.15; At 1.13)
Os Sicários (sikarioj)
Este nome significa assassino. Os sicários eram de uma fanática facção política dos judeus que assassinava seus adversários. Talvez fossem de um ramo extremista dos zelotes ou um grupo separado eventualmente que se fundiu com o movimento deles. Opuseram-se à resistência no 1º século.
Os Essênios
Eram da extrema direita dos fariseus e eram os mais conservadores entre os fariseus porque enfatizavam a observação minuciosa da lei. Porém eram um menor grupo e tiveram início entre os hasidim. Uns viviam em comunidades monásticas e outros tinham o voto do celibato, mas ambos não iam ao Templo por causa do sacerdócio corrupto.
Apesar de Plínio mencionar que apenas havia um assentamento essênio na Judéia, Filo e Josefo afirmam que o grupo reunia mais de 4 mil integrantes espalhados nela.
O vocábulo essênio vem do grego e significa santo e por isso usavam vestes brancas como símbolo de pureza pessoal.

Os Saduceus (saddoukaioj)
Também surgiram na época dos Macabeus. Eram em menor número que os fariseus, mas tinham maior influência política do que eles porque controlavam o sacerdócio, o sinédrio e o Templo. Por isso eram um importante partido religioso que surgiu no período do NT embora não fossem bem organizados.
Sofriam influência da helenização porque continham contato com os dominadores estrangeiros. Eram fiéis à lei mosaica e não aceitavam a tradição oral. Entre eles havia homens ricos e de posição (At 4.1; 5.17).
Conforme a tradição, seu nome deriva dos filhos de Zadoque que foi sumo sacerdote nos dias do rei Davi e Salomão, conforme consta em II Samuel 8.17. Constituíam o grupo dominante na direção da vida civil do judaísmo, sob o domínio da dinastia herodiana.
A sua doutrina é apresentada em Atos 23.8: negavam o dualismo dos círculos apocalípticos (bons e maus), qualquer tipo de predestinação relacionada às ações humanas, mas aceitavam a vontade livre; não criam na existência de anjos, demônios e também negavam o sobrenatural, entre eles os milagres. Na verdade eram totalmente materialistas. Entretanto criam na ressurreição dos círculos apocalípticos da época, sobre castigo e condenação no Hades.
Eram sempre em favor do povo e estavam sempre do lado da maioria e de quem possuía o poder, eram aristocráticos. Tiveram poucos conflitos com Jesus, mas estes foram dramáticos (Mc 11.15-18; 12.18-27; Mt 21.23-27).
Os Zadoqueus (qAdc)
Eram da extrema direita dos saduceus e viviam sob um novo conjunto de regulamentos, o Novo Concerto. Eram missionários fervorosos e também esperavam um Mestre da Justiça, que seria o messias e chamaria Israel para o arrependimento.
Aceitavam toda palavra escrita, mas rejeitavam a tradição oral. Eram muito abnegados à vida pessoal e leais aos regulamentos da pureza levítica. Davam enorme ênfase à necessidade do arrependimento.
Herodianos
Surgiram em 6 d.C. quando Arquelau, filho de Herodes o Grande, foi deposto e Augusto César enviou Copônio, um procurador para o seu lugar.
Apesar de fazerem parte do círculo judeu não eram uma seita religiosa, mas uma pequena minoria de judeus influentes e também pertenciam à aristocracia dos Sacerdotes Saduceus e que apoiavam à dinastia de Herodes. Por isso eram chamados de antipatrióticos.
A sua causa era política e tinha como ponto principal promover o governo de Herodes. Também eram conhecidos como Saduceus de extrema esquerda e acreditavam que o messias viria desta família. (Mt 22.16; Mc 3.6; 12.13).


Os Escribas
Não eram uma seita, nem um partido político. Eram um grupo de profissionais que se dedicavam ao estudo das Escrituras. Provavelmente na época do rei Ezequias já havia escribas, que foram os guardiões, expositores e doutores da lei.
Na época de Esdras, que era escriba, eles interpretaram as Escrituras para o povo e baixaram decisões sobre os casos que lhes foram apresentados (Ed 7.6,11,21).
Tinham como trabalho: o desenvolvimento teórico da lei para incluir novos casos, o ensino gratuito aos seus discípulos e a administração prática dela nos tribunais, nos quais se assentavam como juízes ou assessores.
Na época de Jesus parece que pertenciam à seita dos fariseus, mas estes não tinham conhecimento teológico. Tinham como fonte de sustento outros negócios e Jesus se identificou muito com eles.
O povo da Terra
Era a massa do povo ordinário que permanecia desvinculada das seitas e dos partidos políticos da época entre os judeus palestinos. Eram menosprezados, principalmente pelos fariseus porque não tinham conhecimento algum da Torá e eram indiferentes à mesma.
As Classes Sociais
Os principais sacerdotes e rabinos formavam a classe mais alta. A maior parte da população era de fazendeiros, artesãos e negociantes. Os cobradores de impostos (publicanos) eram desprezados pelos judeus porque mantinham contato com os romanos. Havia vagas para coletas de impostos com contratos de 5 anos. Além de recolher os impostos e terem sua comissão podiam extorquir ilegalmente.
Havia muitos escravos e era comum condenar os criminosos, endividados e prisioneiros à servidão. A liberdade poderia ser adquirida através de pagamento. Outros que pagavam impostos eram os solteiros.
Os nomes não vinham com sobrenomes, mas com uma identificação das pessoas: nome de pai (Tiago, filho de Zebedeu - VIakwbon ton tou Zebedaiou); filiação política (Simão, o Zelote - Simwna ton kaloumenon Zhlwthn); ocupação (João, o Batista, que batiza - VIwannhj o baptisthj); localidade (Judas, Iscariotes, homem de Queriote - VIoudaj VIskariwthj).
Especula-se que viviam mais de 4 milhões de judeus no período do império romano, talvez 7% da população total do mundo romano da época. Alguns dizem que o número de judeus que viviam na Palestina não atingia a 700 mil, porque havia mais judeus em Alexandria, no Egito, do que em Jerusalém e mais na Síria do que na Palestina. Até mesmo dentro da Palestina o número era reduzido, pois na Galiléia e em Decápolis havia mais gentios que judeus.
Os Samaritanos
Samaria (!Armv) é o nome dado à cidade construída por Onri, para ser a capital do Reino do Norte (Israel), que foi fundada em 920 a.C. e estava situada a 11 km a noroeste de Siquém. Foi comprada por Onri de Semer (I Rs 16.24-32) e recebeu este nome em homenagem a Semer (rmv). Existe outra teoria que diz que este nome foi escolhido porque significa posto de vigia.
Era uma cidade bem situada estrategicamente e tinha grande crescimento. Ficava sobre uma elevação à 90m de altura e isto a gloriava das demais, sem contar com a sua beleza e localização.
Foi conquistada pelos assírios em 722 a.C., povo que tinha como costume repovoar as cidades conquistadas com povos de outras também conquistadas por eles, desta forma evitava rebeliões e revoltas. Foi assim que ocorreu com Samaria, foi repovoada com outros povos. Os samaritanos passaram a ser uma população mista, tendo parte israelitas e parte de outros povos.
Há citações sobre ela em alguns livros da Bíblia que a condenam como sendo a espinha dorsal da idolatria (esta mistura explica isto), principalmente na adoração a Baal (Mq 1.5; Jr 23.13; Os 7.1; Am 4.1)
Ao ser conquistada deixou de ser capital e tornou-se província da Assíria, depois da Babilônia e mais tarde dos persas. Juntamente com a sua queda o Reino do Norte chegou ao fim.
Quando Neemias iniciou a reconstrução do Templo, os moradores de Samaria fizeram forte oposição e retardaram a construção. Após a edificação dos muros Neemias voltou para a corte, onde trabalhava e era cativo, deixando seus dois irmãos Hanani e Hananias encarregados em Jerusalém (Ne 7.2).
No ano 32 de Artaxerxes (433-432 a.C.) Neemias voltou a Jerusalém para reiniciar algumas reformas que eram necessárias. Ao chegar viu que Eliasibe havia cometido um grave erro ao formar aliança com Tobias, o amonita (povo inimigo). Desta forma o Templo estaria sempre à disposição deste povo quando viesse visitar Jerusalém (Ne 13.4-7). Por isso expulsou Tobias, acertou as irregularidades do Templo, iniciou as reformas sobre a observação do Sábado e contra o casamento com pagãos (Ne 13.15-28).
Outra irregularidade que Neemias descobriu foi o casamento do neto do sumo sacerdote Eliasibe com a filha de Sambalá, governador de Samaria. Este governador foi contra Neemias na reconstrução e também os expulsou de Jerusalém (Ne 13.28). Daí surgiu o rompimento entre os judeus e os samaritanos e esta hostilidade existia ainda na época de Jesus.
Existe uma outra teoria que é utilizada por Josefo, que toma como base um século mais tarde, já na época de Alexandre o Grande. Josefo menciona que o sacerdote expulso é Manassés e que este levou consigo uma cópia da Torá quando fugiu e passou a dirigir o culto no templo construído no Monte Gerizim.
Esta história dá uma visão religiosa para o cisma, já a citada antes dá uma versão política. Como toda história do povo de Israel está envolvida com o aspecto político e este sempre se volta para o religioso, apelando a Deus, é mais provável que tenha sido a primeira.

Sistema urbano
As Moradias, a alimentação e o vestuário
Pelo menos nas cidades, as casas de moradia eram construídas de tijolos ou concreto. Também havia bairros mais pobres com cabanas e casas de madeira. Alguns telhados tinham telhas, outros palhas e a iluminação provinha de lâmpadas de azeite.
O estilo da Palestina era muito diferente e bem atrasado, a entrada de uma cidade se fazia por meio de um portão nas muralhas. No interior havia uma praça que tinha um espaço público para o comércio e para as atividades sociais ilegais. Algumas casas eram construídas com tijolos de barro, amassados com palha e ressecados ao sol.
Os romanos tinham quatro refeições por dia. Entre os alimentos encontrava-se pão, mingau de aveia, lentilha, leite, verdura, fruta, azeitona, peixe e vinho. Enquanto os judeus tinham duas por dia e comiam frutas e legumes. O peixe e as carnes eram reservados para os dias de festa.
As túnicas usadas pelos homens eram semelhantes às camisas e iam do ombro ao joelho. Um cinto, faixa ou cinturão era enrolado em volta da cintura. Usavam turbante, manta e capa e as sandálias eram grossas.
O Transporte, o comércio, as comunicações e o serviço público
A Palestina era bem pouco desenvolvida em relação às estradas, pois havia poucas que eram pavimentadas. Havia uma estrada que partia de Jerusalém em direção ao sudoeste para Gaza e Belém; outra na direção nordeste para Betânia, Jericó e Damasco (onde Paulo se converteu). Outra estrada se separava da primeira na Transjordânia e atravessava Decápolis até Cafarnaum. A maioria dos judeus percorriam-na quando viajam entre a Galiléia e a Judéia, só para não passarem por Samaria. Uma terceira subia a costa mediterrânea de Gaza até Tiro e outra que seguia para além de Emaús até Jerusalém. Havia uma que começava em Jerusalém, seguia direto para o norte, atravessava Samaria e terminava em Cafarnaum, foi nesta que Jesus se encontrou com a mulher samaritana no poço de Jacó. A quinta é a Via Maris, isto é, Estrada do Mar, que partia de Damasco, atravessava Cafarnaum, perto do mar da Galiléia, seguia em direção a Nazaré prosseguindo até a Costa do Mediterrâneo.
Estas estradas eram famosas e conhecidas por outros nomes: Via Ápia, Via Ignácia, Via Flamínia de Roma, Via Cláudia Augusta, Via Aurélia, Via Domícia e Via Augusta de Marselha. A maioria destas partia de Roma para algum lugar.
Apesar de todas serem muito estreitas eram bem duráveis, pois muitas existem até hoje. As pedras que as pavimentavam tinham cerca de 3cm de altura e ficavam em duas fileiras paralelas. A maior parte dos transportes era feita por estas e muitas pessoas viajam à cavalo, à pé, em mulas ou burros e também eram utilizadas carruagens ou liteiras (espécie de cadeirinha coberta, sustentada por dois longos varais e conduzida por duas bestas ou dois homens, um colocado à frente e outro colocado atrás). À beira delas havia muitas hospedarias, mas eram muito sujas. Havia mapas em forma de manuscritos e até manuais de orientação para turistas.
A Alexandria era o porto principal e o escoadouro dos cereais produzidos no Egito, o qual era o produtor do pão do império romano. Os navios alexandrinos atingiam cerca de 60m de comprimento, possuíam velas e levavam remos para casos de emergência. Os de guerra eram mais leves e conseqüentemente ligeiros, também havia barcaças nos rios e nos canais.
Além de a comunicação ser feita por todas essas formas de transportes, havia o papiro, pergaminho, ostraco e os tabletes cobertos de cera. A maior parte das propagandas ou editos era feita pelos arautos de forma oral ou em notificações públicas colocadas em postes, quadros e etc.
O sistema educacional era bem desenvolvido. A biblioteca da cidade tinha 1.000.000 (um milhão) de volumes aproximadamente. De acordo com algumas escavações arqueológicas, a Antioquia (Síria) tinha 2,5km de ruas com colunas, pavimentadas com mármore e com um completo sistema de iluminação noturna. As principais cidades do império tinham esgotos subterrâneos. Havia banhos públicos para todos, a princípio tomava-se um só por dia, mais tarde passaram a tomar de 4 a 7. Os banhos de chuveiro também foram inventados pelos gregos há muito tempo.
A religião no NT
A religiosidade
A religião oficial de Roma adotou grande parte do panteão (templo arredondado que, na Grécia e na Roma antigas, era dedicado a todos os deuses) e da mitologia grega e com isso as divindades romanas fundiram-se com as gregas. O imperador passou a ser o Sumo Sacerdote e o Senado lançou a idéia de cultuá-lo, já que eram atribuídos atributos divinos a tais.
Havia rituais secretos de iniciação, cerimônias, aspersão de sangue, refeições sacramentais, intoxicação alcoólica, frenesi emocional, vários cultos às divindades, a promessa de purificação e imortalidade. Enfim, havia muita superstição no império romano.
O Panteão Greco-Romano
Cada pequeno lavrador adorava ao seu deus ou deuses e isto ocorria de acordo com o que cria ou que fosse necessário para a sua vida. Com a fusão dos deuses gregos, os deuses existentes passaram a ser identificados dentro da nova cultura. Neste caso, Júpiter que era o deus do céu se uniu com Zeus, deus grego; Juno, sua esposa, se uniu com Hera; Netuno com Poseidon; Plutão com Hades; etc.
Como havia muitos adoradores e alguns ainda cultuavam aos deuses velhos, era aceita toda forma de adoração a qualquer um. Na época de Jesus esses cultos começaram a perder o espaço por causa da imoralidade e alguns filósofos condenavam e escarneciam deles. Mesmo assim cada cidade tinha o seu deus, como em Éfeso havia a deusa Diana ou Ártemis.
O Culto ao Imperador
Existiam vários títulos entre eles o de Senhor (kyrios - kurioj ), Salvador (soter - swthr), divindade manifesta (epiphaneia - epifaneia) e outros. O culto ao imperador tinha um grande valor para o Estado, pois unificava o patriotismo com o culto e tornava o sustento do Estado um dever religioso. O Senado votava a divinização dos imperadores após a sua morte, apenas Calígula e Domiciano forçaram as suas adorações quando ainda vivos. Sendo que aquele era louco e este fez a maior perseguição contra os cristãos.
As Religiões de Mistério
As duas religiões que eram apresentadas satisfaziam a massa mas não individualmente. A humanidade queria mais comunhão com os deuses.
As religiões de mistérios vieram de outros lugares. Havia os mistérios Eleusinos da Grécia; o culto à Cibele, da Ásia; Isis, Osíris ou Serápio, do Egito; o Mitraísmo, da Pérsia.
Todos acreditavam num deus que morreu e que ressuscitou. Cada um tinha o seu ritual de purificação, de fórmulas e várias outras coisas que levaria à imortalidade. Por elas satisfazerem os desejos da imortalidade e da igualdade social, todas as classes eram niveladas.
Adoração ao Oculto
Para o povo o mundo inteiro era povoado por espíritos ou demônios que podiam ser invocados ou ordenados a obedecer à vontade de uma pessoa. Para isso bastava conhecer o rito próprio e a pena a usar.
Desde a fundação de Roma já existia a predição do futuro através do exame das entranhas dos animais mortos e pela observação dos vôos das aves. Os gregos recorriam às sacerdotisas, aos sacerdotes ou aos oráculos que eram manejados pelos deuses.
Os fariseus expulsavam demônios e chegavam a ser considerados feiticeiros. A magia pagã era inimiga do cristianismo e tinha livros (At 19.19). O cristianismo não aceitava o comércio com as forças demoníacas (I Co 10.19-21).
A astrologia surgiu na Babilônia porque acreditavam que os deuses habitavam nas estrelas e daí vem o horóscopo que no reinado de Tibério era mania. Mas com o aparecimento do sistema solar de Copérnico, tendo o sol como o centro do universo, a astrologia perdeu a importância.
Critérios do Cânon
Apostolicidade
A escritura deveria ser escrita por um apóstolo ou alguém que estivera em contato com tal durante algum tempo, neste caso poderia ser um discípulo. Essa pessoa poderia produzi-la a pedido do apóstolo ou por ter sido comissionada especialmente para fazê-la.
Os evangelhos deveriam manter o padrão apostólico de doutrinas referentes a encarnação de Cristo.
Circulação e uso
Como nem sempre era fácil demonstrar a autenticidade apostólica do documento ou sua derivação, passou-se a utilizar o critério do uso e circulação, de forma direta ou indireta, recebendo o reconhecimento da comunidade cristã.
Caráter concreto e ortodoxia
O escrito deveria manter uma matéria que não contrariasse os padrões ortodoxos da igreja. Isto ocorreu porque era comum a ficção literária na antigüidade e na época. Nota-se então, que o escrito deveria basear-se nos padrões doutrinários através da preservação da ortodoxia.
Autoridade diferenciadora
Sabe-se que bem antes dos evangelhos serem mencionados juntos, alguns cristãos distinguiam os livros que eram mais citados e lidos em seu meio, dando uma autoridade divina a tais. Desta forma, foram colocados em caráter igual aos livros do AT, considerados inspirados e possuidores de divina autoridade.
Leitura em público
Nenhum livro seria admitido para leitura pública na igreja se não possuísse características próprias.
Sabe-se que havia muitos livros que circulavam, mas alguns eram apenas para leituras particulares.
Síntese NT
Os quatro evangelhos relatam a vida e os ensinamentos de Cristo Redentor, Seus milagres, os Seus sofrimentos na Cruz, Sua morte e sepultamento, Sua gloriosa ressurreição e ascenção ao céu. no que é mais importante e fundamental.
A palavra Evangelho significa boa nova ou boa mensagem. Este termo designa os quatro primeiros livros do Novo Testamento que relatam a vida e os ensinamentos do encarnado Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo - tudo o que fez para estabelecer uma vida reta e justa na terra e para salvar a human

idade pecadora.
O livro de Atos
O livro de Atos é importantíssimo para entender o NT, pois é nele que se encontra o estabelecimento da igreja cristã e a sua missão, os atos dos apóstolos e as suas viagens missionárias, a conversão e as viagens missionárias de Paulo, também as suas cartas.
Atos é o único livro do NT que tenta falar a respeito de Jesus Cristo após a sua ressurreição e ascensão. Através do seu conteúdo explica-se a necessidade de uma comunhão religiosa mundial através do cristianismo, termina com a prisão de Paulo e os seus discursos em sua defesa.
Viagens missionárias
1- 1a Viagem Missionária: Atos 13.1-14.28 - após retornarem de Antioquia, Paulo e Barnabé foram enviados para fazerem a 1a viagem missionária, onde fundaram igrejas e visitaram a Ilha de Chipre e as regiões da Ásia Menor-Sul-Central (Panfília, Psídia, Licaônica, Icônio e Lícia);
2- 2a Viagem Missionária: Atos 15.36-18.22 - Paulo e Silas visitaram as igrejas estabelecidas e foram para Trôade, depois foram para a Europa e fundaram mais igrejas na Macedônia e Acaia;
3- 3a Viagem Missionária: Atos 18.23-19.20 - fala muito do ministério de três anos de Paulo em Éfeso, onde escreveu as duas cartas à igreja de Corinto. Depois foi para Trôade e para a Macedônia, onde escreveu a terceira carta aos Coríntios (que na Bíblia é a 2a) e em seguida foi para Corinto e escreveu a carta aos romanos. Por fim voltou para Jerusalém, onde foi preso e enviado para Roma. Na prisão escreveu as cartas a Filemom, aos Colossenses, aos Efésios e aos Filipenses.
Através da narrativa contida no livro de Atos pode-se entender quando e onde Paulo escreveu as cartas às igrejas, para isto basta compará-la com o conteúdo de cada uma. Desta forma é possível reconstruir a história da igreja cristã e dos apóstolos.
Acredita-se que as cartas paulinas foram escritas nestes períodos:
- Durante a 2a Viagem Missionária: I e II Tessalonicenses, estando em Corinto;
- Durante a 3a Viagem Missionária: I Coríntios, em Éfeso; II Coríntios, na Macedônia; Gálatas e Romanos, em Corinto;
- Durante a 1a prisão em Roma: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon;
- Epístolas pastorais: I Timóteo, na Macedônia, Tito, na Macedônia ou Corinto;
- Durante a 2a prisão em Roma: II Timóteo;
Cartas ou Epístolas
Os evangelhos foram escritos depois das cartas, por isso elas são as mais antigas literaturas do movimento cristão. Os 27 livros contidos no NT são cartas. Ao observar a introdução de Lucas e Atos nota-se que também são cartas e o livro de Apocalipse também é uma carta que foi enviada às sete igrejas que estavam na Ásia.
Durante a época da Pax Romana (A paz gerada pelas armas, ou por autoritarismo, como a que ocorria entre os povos dominados por Roma) a comunicação escrita era necessária para o governo, para o comércio e muito utilizada entre as famílias e amigos em questões particulares, conforme a arqueologia mostra.
Baseando-se em Cícero, Adolf Deissmann mostrou uma diferença entre uma carta e uma epístola. Carta era pessoal e dirigida a uma pessoa específica para um assunto certo; já a epístola, apesar de também ser uma carta pessoal, tinha a intenção de que muitos pudessem lê-la ou ouvi-la. Dá a idéia de tornar conhecido o seu argumento ou pensamento.
Antigamente havia secretários particulares, que na verdade eram escravos com muita cultura e também existiam os escribas profissionais, chamados de amanuenses. No final, a carta ou epístola era assinada pelo autor e enviada ao seu destino através do mensageiro.
Cartas paulinas
As cartas paulinas foram escritas à igrejas específicas ou aos seus líderes e que tinham problemas específicos. Por isso o propósito da carta era resolver tais problemas, ou melhor, ajudar no crescimento espiritual dos cristãos espalhados no Império Romano.
Cada carta era levada por alguém e lida na assembléia quando necessário. Com o passar do tempo os escritos destas cartas tornaram-se uma autoridade em doutrina e prática cristã.
Epístolas gerais ou católicas
O vocábulo católico vem do grego katholikós (kaqolikoj)e significa geral ou universal. Essas epístolas são chamadas assim porque não se destinavam a uma pessoa ou igreja específicas, mas a várias igrejas ou pessoas.
As epístolas católicas no NT são: Tiago, I e II Pedro, I, II e III João e Judas.
II e III João apesar de serem endereçadas a um grupo ou pessoa em particular, são consideradas uma só com a 1ª epístola e por isso são incluídas como católicas. Também se deve levar em consideração Apocalipse e Hebreus.
Hebreus
O livro de Hebreus é interessante porque começa como um tratado, continua como um sermão e termina como uma carta. Apesar de ser uma carta não se sabe quem a escreveu e nem qual o seu destinatário. Mesmo assim, acredita-se que foi escrita aos cristãos judeus e por isso apresenta Jesus Cristo como Sumo Sacerdote e mostra a superioridade de Cristo sobre tudo que já foi revelado no AT.
Apocalipse
A palavra apokalipsis (apokaluyij) é um substantivo que vem do verbo apokalipto (apokaluptw) e significa desvendar, revelar.
Este livro-carta contém o nome de João, seu autor, tem um conteúdo profético e várias figuras de linguagem que necessitam ser interpretadas para serem entendidas. É considerado por muitos como um livro profético e por isso apocalíptico.
Foi escrito num período de perseguição, aos cristãos, imposta por Domiciano, por isso há muitas figuras de linguagem, mas todas estão relacionadas na história do povo de Israel, principalmente, com a história do êxodo.
Por ser um livro-carta escrito por alguém é importante prestar atenção no seu propósito específico.







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